17/12/2009

Palavras são difíceis de engolir. É sempre necessário um copo de mágoa para fazê-las descer. O problema é que mágoa quase sempre nos faz mal e daí mil coisas aparecem para amenizar o desconforto das mágoas que não foram ditas. Cada um sugere uma coisa: tem gente que bebe, tem gente que come, tem gente que compra, tem gente que corre.

O que as pessoas costumam desobrir tempos depois é que tudo que se faz serve somente de maquiagem. Mágoas não podem ser digeridas. Cedo ou tarde ela surgem como num refluxo somadas às palavras não ditas e multiplicadas pelo tempo que passou. É o caso de se preocupar.

Mágoas não podem ser prevenidas, mas suas complicações sim. O remédio e o veneno estão no mesmo frasco. Há que se convencer as pessoas a não engoli-las. Cuspa a mágoa, bombardeie suas palavras tristes. "Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."

09/12/2009

Os Cílios

Os cílios agarraram-se às pálpebras quando tentei fechar meus olhos. Mas você assoprou e todos voaram. De novo nasceram e de novo voaram. Não faça mais isso! Quem vai cortar a lágrima em fatias no dia em que você for embora?


Rita Apoena

03/12/2009

A vida é dura


É difícil nos separar dos outros. Entender que os outros nada têm a ver com seus problemas e que ninguém tem que se esforçar pra te entender. Reconhecer que não podemos exigir reciprocidade e nem querer que abram mão de qualquer coisa por nossa causa. Perceber que, apesar de você querer muito, ninguém tem obrigação de te ajudar a levantar. Ver que ninguém pode, nem precisa, perceber o que se passa no seu coração. Não é fácil concluir que a sua melhor companhia é você.

30/11/2009

Dia Branco



Se você vier pro que der e vier comigo, eu lhe prometo o sol, se hoje o sol sair, ou a chuva, se a chuva cair. Se você vier até onde a gente chegar numa praça, na beira do mar, num pedaço de qualquer lugar...

22/11/2009

Sem nome 12

Já não é mais um pensamento,
é uma onda que me toma.
Meu coração submergiu
das águas de um sentimento novo.

A distância separa meus braços
mas une dois corações por laços invísiveis.
Invisiveis aos olhos de quem nunca
sentiu saudades de quem não conhece.

A angústia me corroi,
fazendo brotar a dúvida e o medo.
Faço-me muda para que eu
não me reprima.

Então aquela brisa suave que
tocou minha alma
fez da minha mente um furacão.

Ja não sei o que fazer.
Só me resta esperar que o tempo,
senhor dos corações agoniados,
tome minhas dores e me leve
ao encontro da outra metade do meu ser.


Ana Tereza (2004)

11/11/2009

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.


Pablo Neruda

28/10/2009

Ovídio



Se eu pudesse, seria mais sensata;
mas uma força nova arrasta-me contra a minha vontade,
e o desejo atrai-me a uma direção,
e a razão, a outra:
vejo e aprovo o melhor, mas sigo o pior.


14/10/2009

Crônica do Amor

Hoje atendi um homem no posto de saúde com uma ferida de quase 10 cm de profundidade e com 43 anos de idade. Sim, a ferida tinha o dobro da minha idade. No entanto, o que me faz lembrar desse moço não é a quantidade de exudato que ele tinha ou o odor terrível que senti ao atendê-lo, mas sua bela voz e a mensagem que ele quis me deixar no fim da manhã dessa quarta feira. Talvez o texto fosse super clichê, mas recitado por um locutor de rádio em um momento assaz diferente da minha vida me fez vê-lo de outra forma.


Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?
Não pergunte pra mim. Você é inteligente: Lê livros, revistas, jornais; gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.


(Arnaldo Jabor)

06/10/2009

Sinceramente

Ela olhou para aquele quase estranho deitado ao seu lado e tentou se lembrar de como tinha ido parar ali. Quando o conheceu não imaginava que um dia teriam tamanha intimidade. Ela se sentia a vontade ao lado dele, mesmo sabendo que por vezes eles não se compreenderam. Isso era irrelevante perto da alegria que era estar na sua companhia. Sabia que, por vezes, se comportou como criança perto daquele homem. Sentia um pouco de vergonha, mas reconheceu que ele lhe despertara sentimentos que ela nem sabia que poderiam existir.
Ela não conseguia tirar os olhos daquele rapaz. Começava a achar tudo em seu rosto bonito. A boca, o nariz, as bochechas. Seus olhos, que geravam discussões acerca da cor - Não sabia se era azul piscina ou verde esmeralda - até fechados eram belos. Não soube dizer ao certo em que momento começou a se apaixonar por ele. Ela perdera o controle da situação há muito tempo e nesse momento isso ficava claro. Pensou que pela primeira vez na vida tinha gostado de perder o controle. Pensou que fosse talvez uma menina de sorte e que a vida é mesmo engraçada. Pensou que talvez não fosse o melhor momento e que ela poderia sofrer muito, mas desperdiçar aquela oportunidade poderia fazê-la se arrepender pro resto da vida.
Lembrar dos momentos que passaram juntos fazia arrepiar seu corpo todo. Ela gostava de quase tudo naquele rapaz. O jeito, o cheiro, o beijo. Achava até um pouco estranho. Temia que a qualquer momento descobrisse um defeito que abalasse a harmonia dos dois. Resolveu parar de se preocupar.
O tempo que passavam juntos eram bons o suficiente para tira-la da loucura obsessiva que era seu dia-a-dia. Pensou que talvez devesse agradecer àquele homem. Sim, deveria lhe agradecer, mas vê-lo dormir lhe trazia tanta paz que não conseguia sequer se mover. Conseguiu apenas deixar escapar um sorriso discreto, daqueles que só quem é encontrado pela felicidade consegue dar, e cantou baixinho:
Honestamente, eu só quero te dizer que eu acertei o pulo quando te encontrei...

27/09/2009

Algum remédio que me dê alegria

Os últimos posts têm um tom melancólico que eu não esperava de mim mesma. Todos com o mesmo tipo de frustração com relação às pessoas. Escorre culpa pelas frases. Culpa de ter esperado que o outro me desse o que eu não tenho. Saber que vivo em função do outro foi uma descoberta que me doeu. E doeu mais saber que isso nao tem solução.

O encontro de novos problemas e antigas dificuldades me sensibilizaram mais do que eu esperava. Me surpreendo quando vejo a mulher fraca e chorona na qual aquela menina forte se transformou. Me decepciono comigo mesma. Não me desapeguei do que era mais importante. Aprendi a teoria corretamente e não consegui por em prática. Tenho matado bem mais que um leão por dia.
Me surpreendi ao me ver perdendo o sono por coisas banais. Há semanas não consigo parar de chorar. Não desgrudo do telefone e nao tenho mais assunto pra conversar. Parei de escrever. Pensei muitas vezes em acabar com tudo. Não o fiz ou por não assumir minha fraqueza ou por ser covarde demais. Talvez seja meu inferno astral denovo.

Tive raiva, tive tristeza, tive mais tristeza. Talvez eu não mereça ser feliz, enfim. Talvez eu não consiga. Se esse é o sofrimento tão prazeroso do qual os poetas falavam, acho que não quero amar.

Ficarei por aqui. Não tenho gostado das minhas palavras, tampouco de mim.

16/09/2009

De pensar

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.


Fernando Pessoa

[Sem muito ânimo e inspiração pra escrever, faço minhas as palavras de Fernando Pessoa. Ele sempre sabe o que dizer nos momentos difíceis.]





11/09/2009

Como se tornar um ladrão

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
E então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por quê? Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava. E é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então! E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples... É porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.



Luís Fernando Veríssimo

06/09/2009

A falta que a falta faz [2]

Acordei pensando que não quero mais sentir falta. Me esqueci a falta que a falta faz.
conlui que somos mesmo masoquitas e gostamos de sofrer.
Sofrer de saudade, sofrer com a dúvida, sofrer com a decepção.
Concluí também que mesmo sabendo disso minha atitude é certa. Preciso me defender.
Preciso querer não querer, pra não sofrer depois.
Mas, tentar evitar algo que talvez já exista, é sofrer igualmente.

E querer mais. Ou menos. Agora parece fazer mais sentido pra mim.
O desejo é uma desordem. Te querer não faz sentido.
Mas, ah! Como queria somente te querer e mais nada!

As notícias a respeito de você me assustam e me fazem querer correr.
Sei que chegará a hora em que eu as anunciarei.
Mas, ah! Como queria somente te querer e mais nada!

Mais que te querer, queria ser o seu bem-querer.

04/09/2009

Não sei porque você se foi...

SAUDADE, s. f. Recordação ao mesmo tempo triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; pesar pela ausência de pessoa(s) querida(s); nostalgia; -s: cumprimentos; lembranças afetuosas a pessoas ausentes.


Bobagens, Senhor Aurélio!

Saudade só tem significado pra quem sente.
Falar sobre saudade é ser, mais que clichê, um grande piegas.
Falaram de saudade os grandes poetas, os modernos, os clássicos e os românticos.
Saudade não tem preconceito. Quase não tem nem conceito.
Saudade tem acorde em tom maior.

Não sei porque você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...


Tim Maia

01/09/2009

O ser-para-si

Talvez nem fosse preciso dizer, mas, sim, tenho medo de ser abandonada. Denovo.
Daí me sujeitar a tanto sofrimento calada.
O que acho diferente em mim é o hábito adquirido ao longo dos anos de mascarar isso.
É ser forte, como ouvi tantas vezes repetirem.

Hoje tenho minhas dúvidas sobre tamanha força.
Se eu tivesse sido fraca e me revoltado na hora H ou tivesse jogado aquela verdade na cara, talvez hoje não me doesse tanto.
Mas passou e hoje já nem consigo dizer o que ao certo me machuca.

Sei que estou cansada de me esforçar tanto para receber algo que nunca vi.
Além do reconhecimento e da admiração, talvez o amor também me tenha vindo cercado de condições.
Corresponder à tantas exigências é que tem me consumido. Mas como fugir, se preciso delas pra ter um pouco de carinho?

'Seja mais clara. Me entenda. Me ajude. Faça. Refaça. Obedeça. Esteja atenta. Seja flexivel. Esteja disponivel. Carregue. Entregue.'
Talvez não doesse tanto se visse alguem fazer isso por mim. Mas, sinceramente e infelizmente, não vejo.
Vejo as pessoas exigindo mais. 'Cuide de você. olhe pra você. Cumpra seus compromissos. Você pode fazer mais.'
Não quero ser a única pessoa a gostar de mim. Na verdade, nem consigo.

Acho que é demais querer receber algo que não se dá.
É demais querer que leiam as entrelinhas.
É demais querer chutar o balde e dizer o quanto me dói saber que não sou prioridade pra ninguém. Que exclusidade é palavra que nem existe no meu dicionário.

Não posso fazer isso porque preciso de pelo menos um pouco de atenção.
Preciso desse sentimento superficial que encontro nas ruas e esquinas, apesar dele nao me satisfazer.
Por isso me desanimo e perco a vontade de falar.
Me desfaço sempre um pouco para dar para o outro aquilo que não existe em mim, na esperança de que talvez ele me devolva um parte.

Meu amor não age em mim.
Sempre lembro de Sartre e da psicanálise quando diz que a gente só tem consciência de si quando o outro nos mostra quem somos. Nos vemos pelos olhos dos outros.


Pra que chegar onde cheguei, onde chegarei se ninguém há de comemorar por mim e comigo a caminhada?
Todo mundo só pensa em si. Você só serve para mostrar ao outro quem ele é.

É demais querer alguém que pense em mim, afinal, até eu mesma só penso em mim.

31/08/2009

Walking Around


Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.






Pablo Neruda

25/08/2009

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos

20/08/2009

'Não solta da minha mão'


Agora preciso de tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor.


Clarice Lispector




17/08/2009

Medo

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.


(Cecília Meireles)


11/08/2009

Corra e Olha o céu [2]


Parei pra olhar pro céu. Lembrei do livro do Paulo Coelho que todos lemos um dia e achamos que mudaria tudo em nossa vida - O Alquimista. Lembrei de como é importante ouvir seu coração. Calei meu pensamento e foi aí que descobri que corações não falam.
Coração bate e mais nada. Todo o resto vem da cabeça, inclusive os sentimentos. E a partir daí somos o que pensamos. Pensei que talvez eu tivesse exagerando.
Talvez estivesse tudo bem, talvez vá passar. Talvez eu estivesse me enganando, talvez estivesse sendo enganada. Quis crer que se pensasse que tudo é do jeitinho que eu sonho, talvez realmente fosse.
Vi o céu sem lua e ele não era menos bonito por isso. Ainda assim quis ver a lua de alguns dias atrás. Já não era hora. Pensei que provavelmente era questão de tempo, mas eu não podia esperar um mês inteiro para vê-la denovo. E se ela não surgisse?
Pensei que poderia não valer a pena esperar tanto e, enquanto me decidia, continuei ali parada, sem reparar quantas estrelas piscavam pra mim.

06/08/2009

Via Láctea


Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas.

Olavo Bilac

31/07/2009

Des-obrigada.

Acordei pensando em como a minha vida é boa. Uma família legal, um namorado legal, estudo e não preciso trabalhar, saio todos os fins de semana, tenho muitos amigos e nenhum problema grave de saúde. Me senti na abrigação de agradecer a Deus. Mas ao contrário perguntei-Lhe o por quê de ter nascido em uma família de classe média no Brasil?
Agradeci por ter estudado em boas escolas e fazer uma faculdade particular. Agradeci por não ter passado fome e não ter que me preocupar sempre com a maldade alheia. Por poder me preocupar em arrumar um namorado ou em fazer uma festa.
Mas não pude agradecer à Deus por me sentir medíocre. Por não estar preparada para ouvir o outro. Por pertencer à uma classe que se acha detentora de todo conhecimento. Por achar que ouço as melhores músicas, leio os melhores livros e frequento os melhores bares. Por achar que faço e digo coisas inteligentes. Por ser alternativa só pra ser igual.
Não consegui agradecer a Deus por não me deixar levar pelas futilidades da vida, mesmo sabendo que tudo vale a pena, se a alma não é pequena.
Não agradeci por ser irônica e ver vantagem nisso. Por julgar sempre as atitudes alheias de acordo com os parâmetros da classe. Por, mesmo assim, ver as coisas de forma simples e querer que todos vejam também. Por querer desconsiderar os valores morais que há tanto tempo nos orientam. Por querer que me julguem imoral, sim, mas não me condenem por isso.
Não consegui agradecer à Deus por estar na média. Por achar que os meus padrões estão absolutamente corretos. Por achar que existem pessoas inteligente e burras, quando essa é somente mais uma forma de discriminação. Por achar que a inteligência está nas palavras e não nas ações. Por querer falar de coisas inteligentes e não ver que há sabedoria em tudo. Por ter uma visão limitada. Por querer levar a vida com bom humor. Por querer ajudar os outros sem perceber que, por isso, me achava de certa forma superior.
Não pude agradecer à Deus pela vontade de magoar os outros. Pela vontade de responder à altura. Por dizer o que penso a quem não quer ouvir. Por achar que todos achariam graça nas mesmas coisas que eu. Por achar que estando entre outros da classe média, estaria entre iguais. Por querer agradar a quem nem conheço.
Não agradeci a Deus por estudar um pouco e achar que sei muito. Por querer mostrar a todos o pouco que aprendi. Por confundir sabedoria e inteligência. Por não ver beleza nas coisas simples. Por ter que sustentar uma imagem. Por ter que seguir algumas normas para que me achem 'bem educada'.
Me recusei a agradecer por ser obrigadaa preocupar com coisas como roupa, cabelo e bunda. Por ter que medir sempre minhas palavras. Por ter que me preocupar com a opinião alheia. Por ter que ganhar dinheiro. Por ter que saber dirigir. Por ter segurança na minha rua. Por achar ruim ter que dividir algumas coisas com meus irmãos. Por exigir, mesmo implicitamente, cada gota de suor dos meus pais. Por querer consumir. Por me conformar com tudo isso.
E me senti ainda mais pobre por não conseguir agradecer a Deus.
Então perguntei a mim: Por que tenho tanto e sou tão pouco?

29/07/2009

Desafiar-me-ei

Resolvi continuar, só de teimosia.

Fiquei lembrando da minha mãe falando de mim pra minha vó:
"A Ana é muito forte, sabe?! É muito resistente. E como toda pessoa resistente, ela é muito teimosa." Então sussurou: "É igual o pai dela."

Pois, bem. Vou prosseguir só de pirraça. Só porque essa não é a minha maior vontade, mas quero saber até onde eu posso chegar. Tenho mil rotas a seguir, posso ir daqui pro mundo, mas quero ficar porque quero mergulhar mais fundo. Quero sair da rotina e pra não sair da rotina, encarar um desafio. Se nada me desafia nessa relação, eu me desafiarei.
Me desafio a continuar assim mesmo, a não transformar meu sentimento em dó, a mudar algo em mim. Me desafio a fazer isso tudo e ainda fazer alguém feliz.
E, cá entre nós, não há nada que eu queira mais nesse momento que um grande desafio.

Me veio um sorriso leve no rosto. Me surpreendo com o quanto posso ser otimista. Eis ai uma grande qualidade minha: transformar sempre algo ruim em algo bom.

=)

25/07/2009

Sinceramente

Não, você não está em minha mente o tempo todo, não passo os dias esperando por você, não tenho vontade de falar de você em todas as conversas, não quero casar com você, não tenho vontade de saber tudo sobre você, nem de conhecer a sua família. Não tenho fotos suas em todas as minhas coisas, não ando suspirando pelas ruas, não lembro de você em toda música que ouço, não escrevo cartas de amor e nem ponho a minha vida em suas mãos. Mas quando lembro de você sinto um friozinho gostoso na barriga e, às vezes, até arrepio. Quando estou com você, quero somente estar com você, levar a vida devagar, ver o sol nascer. Quando você está comigo não sinto necessidade de dizer nada, viro criança denovo, mudo o jeito de falar, mudo de assunto e não quero mais te soltar. Você desperta o meu desejo.
Gostei do seu charme e do seu groove. Gostei do jeito como rola com você. Gostei do seu papo e do seu perfume. Gostei do jeito como eu rolo com você. Sinceramente, você pode se abrir comigo. Honestamente, eu só quero te dizer que eu acertei o pulo quando te encontrei. (Cachorro Grande)

21/07/2009

Amor feinho

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.


Adélia Prado

15/07/2009

Paixão e Romance


- A Palavra "Paixão" quer dizer sofrimento! Paixão de Cristo, paixão de Joana D'Arc... Em grande aflição eles se apaixonaram, ou seja, quem diz que está apaixonado quer dizer que está sofrendo por amor, mas o que é mais incrível: está gostando de sofrer! Nas histórias românticas amar significa sofrer.
- É uma idéia bonita, mas um pouco estranha. Não se pode querer que o amor traga só felicidade, mas daí a gostar de sofrer por amor!?



- O século XII inventou essa estória de amor com paixão e depois de Tristão e Isolda todo mundo começou a achar muito bonito sofrer por amor.
- Eu acho que sofrer é ruim de todo jeito, mas é melhor viver um grande amor mesmo impossível, do que não amar ninguém.
- Ah, eu não sei... Acho melhor ficar sozinho do que amar a pessoa errada.
- Isso não existe. Quem amou o errado, certo lhe parece.
(Texto e imagem do filme 'Romance', de Guel Arraes.)

13/07/2009

Quando a gente ama uma pessoa, o que é que a gente mais quer nesse mundo?

- Ah, ficar bem juntinho dela.

- Pronto. Tão juntinho, tão juntinho, que como diz o poeta: transforma-se o amador na coisa amada, por virtude do muito imaginar. Não tenho, logo, mais que desejar, pois já tenho em mim a parte desejada!




Texto e imagem do filme Lisbela e o Prisioneiro

11/07/2009

Sobre o medo

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.




Clarice Lispector

06/07/2009

Procura-se

Ainda assim não conseguiu se desfazer de certa ansiedade. Sentou no chão da cozinha sem soltar o cigarro. O frio da cerâmica se contrapunha ao calor ameno do raio de sol que tocava sua perna. Lamentou ter que se despedir mais uma vez. No entanto, sabia que aquele sol que partia surgiria denovo assim que ela achasse que a noite estivesse sendo longa demais. Lamentou que nem tudo na vida fosse assim.
De repente sua mente ficou vazia. Talvez fosse o efeito da nicotina ou de uma substância calmante qualquer do chá que bebia. Encontrou-se então em um daqueles momentos que ela não gostava de passar – a hora em que ela se escondia de si mesma. Sentia que novamente transformava sua ansiedade em tristeza. Tristeza fora o substantivo que melhor se encaixou no seu estado emocional, mas não era bem isso.
Era algo parecido com preguiça, desânimo. Nesses momentos se apoderava de um estranho silêncio, que só era interrompido por alguma resposta ríspida dada a quem quer que fosse. Tinha vontade de ficar imóvel, ir se desfazendo aos poucos e tomar a forma do piso da cozinha. Tinha vontade de ter alguém por perto talvez. Não vinha à mente a imagem de ninguém que lhe fizesse companhia sem lhe afogar em questionamentos. Talvez estivesse realmente triste.
Procurou em vão um motivo para o surgimento daquele sentimento. Resolveu sair dali, dar uma volta, ler um livro ou ver tv. Poderia se encontrar perdida em algum lugar. Se desse sorte, poderia encontrar aquele belo e estranho rapaz.

04/07/2009

Luzes e Sombras

Levantou-se. Passou a mão pelos cabelos sabendo que não seria suficiente para que eles ficassem belos como nas propagandas de shampoo e prendeu as mechas de uma forma que pudesse esquecer que as possuía por alguns minutos. Faltava-lhe paciência para as coisas do dia-a-dia: Fazer almoço, ir ao banco, calibrar os pneus do carro e até pentear os cabelos. Quando saiu da casa dos pais não pensou que ficaria tão ocupada com afazeres domésticos. Várias vezes havia deixado de pagar algumas contas e já havia passado o dia todo sem comer só porque estava com preguiça.
Agora caminhava até a cozinha pra beber o chá que a essa altura já devia estar frio. Não fazia questão de acender a luz. Gostava de sentir o calor do sol que entrava de mansinho por uma pequena abertura na cortina. Ficava hipnotizada por aquele jogo de luz e sombra no chão da cozinha todo fim de tarde. Era ainda mais belo quando era acompanhado pelo silêncio, coisa rara naquela região da cidade.
Ela gostava de ficar sozinha. Nunca tivera muitos momentos para encontrar consigo mesma naquela casa sempre cheia em que cresceu. Não que não gostasse daquela agitação de família grande. Sempre sorria ao lembrar de pequenos acontecimentos que só alguém que tem muitos irmãos pode entender o que é. Por causa de sua família ela tinha se tornado uma pessoa quase boa. Aprendeu a dividir e a compreender as diferenças, aprendeu a ver alegria nas pequenas coisas e a defender quem ama. Ainda assim gostava de estar só. Sempre foi uma boa companhia para si mesma.

Acendeu um cigarro. Seus pensamentos vinham tão rápidos à mente que precisava de nicotina para freiá-los. Era uma mistura de ansiedade, tristeza, desânimo e esperança. Gostava de cultivar esses sentimentos, não lhe faziam sofrer. Ao contrário, faziam-lhe sentir que estava viva e davam a ela a vontade de apoderar-se cada vez mais deles. O que para a maioria das pessoas seria uma cena triste e melancólica era para ela agora um prazer imensurável. Isso era viver intensamente.

03/07/2009

O início de um contentamento descontente

O infinito sempre fora algo que lhe cansava. Ela gostava mesmo era da efemeridade da vida. Saber que tudo acaba dava à cada minuto um sabor diferente e ela deleitavasse com eles. Desejava o eterno platônicamente. Queria ter sempre uma companhia agradável por perto, alguém que lhe acompanhasse e dividisse os momentos memoráveis. Queria alguém com intimidade suficiente para ficar ao seu lado sem pronunciar uma sequer palavra e para ligar-lhe para falar de coisas fúteis. Ela queria um homem que a desejasse também. Queria tudo isso em uma só pessoa, mas nem sempre a mesma pessoa.
Ela sabia que mais cedo ou mais tarde aquele companheiro seria revestido por uma capa de monotonia cinza e ela iria fugir denovo, mas precisava arriscar. Ela queria ignorar esse fato e amar intensamente. Até que o tédio se aconchegasse alí, eles viveriam momentos inesquecíveis. Era com esses momentos que ela sonhava.
O que nem ela mesmo sabia é que por vezes ela encontrou caras legais que pudessem fazê-la feliz e ela os afastou. Nem sempre por vontade própria.
A sede de felicidade era tanta que ela se perdia em meio às palavras levianas que lhe saltavam à boca na esperança de adiantar o momento tão esperado. Era um vazio tão grande dentro de si que o mundo exterior lhe era sugado. Queria ter a vida que contava a todos que tinha. Ela nunca pôde reclamar da sua vida, mas nunca teve do que se vangloriar. Esperava o homem que lhe traria emoção. Que durasse 10 anos ou 10 minutos, não era o tempo que lhe atormentava. Ela queria desejar alguém mais que tudo na vidinha medíocre que tinha.
Mais que desejo, ela precisava de amor. Em todos esses anos ela nunca havia amado ninguém e pior, não sentía-se amada. Essa constatação trazia-lhe um gosto amargo à
boca. Preferia não pensar nisso. Não mais.
Tinha sido difícil construir aquela mulher atraente que agora a fitava no espelho.
Tinha sido por muitos anos escrava de uma posição que não sabia bem dizer quem havia lhe determinado. Descobriu a duras penas que tinha um jeito próprio de transformar ansiedade em tristeza.
Reconhecer tudo aquilo tinha sido torturante. Ela não queria ver aquele filme novamente. Não agora que a vida parecia ter-lhe dado uma nova chance. Parecia-lhe que a felicidade finalmente batia à porta.

01/07/2009

Contentamento Descontente

Ela tentava se dominar. Mentalizava incessamente que não deveria ser tão ansiosa, que as coisas deveriam fluir naturalmente. Tentava se convencer de que ele não perceberia seu coração bater mais forte e suas pernas bambearem quando ele aproximasse os lábios de sua nuca e o ar que saisse de suas narinas fizesse seu corpo todo arrepiar. Ela sabia que precisava manter a concentração, era só manter a calma. Ela repetia pra si mesmo que tudo tem seu tempo e chamar aquele quase desconhecido de 'amor' seria, com certeza, a deixa para ele desaparecer e isso era tudo o que ela não queria.

Ele não era o cara mais perfeito do mundo. Na verdade estava longe de ser. Era bem humorado, trabalhava e era até bonitinho, mas nada nele lhe despertara desejo, exceto o fato de ser um dos raros homens que ousou lhe desejar. Essa era uma raridade que lhe atraia em demasia. Ver um homem sentir prazer ao vê-la sentir prazer era suficiente pra desejá-lo. Como os outros poucos que se arriscaram, este também havia surgido de repente e também mostrava-se assaz interessado em acompanha-la permanentemente. E ela precisava de companhia, ah! como precisava...
Ela viu ali aquele homem que lhe pareceu tão carinhoso e romântico, simpático e bem humorado. Pareceu-lhe estratégicamente colocado em seu caminho. Então ela desejou desejá-lo mais que tudo em sua vida. Sentiu novamente o ímpeto de se atirar do mais alto abismo, tentar voar e rezar para que fossem muitos os metros que antes do chão. Ela quis se entregar. Quis ligar, abraçar e beijá-lo frequentemente. Quis abrir seu coração para aquele homem que tã oportunamente se apresentava.
Então lembrou que é necessário seguir as regras estabelecidas desde sempre para relacionar-se com terceiros. Não que achasse que aquelas regras fizessem sentido, mas sabia que era esperado que ela as seguisse e caso contrário ficaria claro que ela não era capaz de se dominar e, consequentemente, viver em sociedade.
Pessoas que se deixam dominar pelas emoções não são bem vistas, são consideradas ameaças. Ameaças talvez à monotonia e ao controle ilusório da rotina. Ela queria ignorar tudo isso e correr, mas era impossível soltar-se das amarras da cultura.
Nunca lhe atormentou a idéia de ver alguém partir, o que lhe incomodava era a possibilidade de vê-lo partir sem dividir com ele quantos momentos bons pudessem ter. Era uma mania que ela tinha, tirar de quem se aproximasse toda alegria que ela pudesse dar.
Então ela repetiu pra si mesma que aquele jogo de cartas marcadas era necessário, que era isso que se chamava sedução e tentou não se precipitar, mas nesse momento sua alma já partia livre atrás daquele estranho e belo rapaz.

29/06/2009

Sem Nome 58



O jogo de interesses,
o jogo do interesse.
Tocar, abraçar, apertar
pra ver se é você.

Querer ver até onde vai,
pagar pra ver e nao receber.
Provocar, atrair seu olhar
maltratar pra poder vencer.

Se mostrar, se convencer.
Querer agradar, querer possuir .
Exigir que o outro seja
o que você não ousa conseguir.
Seduzir.






[14/05/2009]

21/06/2009

Bares, mesas e amizade


A mesa de bar começou pra mim como uma grande brincadeira.
Não que eu não quisesse realmente um 'namoro hermaníaco'. Eu sempre quis, e ainda quero, um namorado que goste de los hermanos, mas não somente. Tampouco esperava conhecê-lo pelo orkut.
Imagine! Era uma idéia absurda conhecer pessoalmente alguém que você somente conversava pela internet.
O orkut e o msn eram ainda uma novidade na época e eu achava o máximo entrar em todas as comunidades engraçadinhas que eu via pela frente. "Eu quero um namoro hermaníaco" foi só mais uma delas.
Criei um tópico com o intuito de conhecer pessoas de BH que tivessem a mesma vontade. Nos adicionaríamos no msn e conversaríamos, mas nunca pensei realmente em conhecer, muito menos namorar, ninguém. Tudo aquilo fazia parte de um mundo paralelo, um mundo virtual.
Então veio o tópico do "agora vai", idéia daquele que viria a ser o maior defensor desse sonho.
A comunidade ocupava minha mente durante todo o dia, mas era um assunto sobre o qual não conversava muito. Me parecia irreal. Eu tinha a sensação de que entrar no orkut e conversar com meus amigos da 'mesa de bar' era como deitar, adormecer e sonhar.

Surgiu a comunidade da 'mesa de bar'. Éramos umas 17 pessoas, se não me engano, e eu não tinha ouvido sequer a voz de nenhuma delas. Aquilo tudo estava muito distante da minha realidade.
Na verdade eu não me abria muito com essas pessoas. Primeiro porque realmente não é do meu feitio. Depois porque nunca precisei. Estar ali num tópico livre ou numa janela coletiva do msn fazia com que todos os meus problemas desaparecerem.
Com aquelas pessoas que eu nem sabia se eram alas ou baixas, gordas ou magras, se alguém era fanho ou se tinha 6 dedos na mão, com eles tudo era mais belo.
Falávamos quase sempre de amor, de música e de outros assuntos tão leves quanto. Eram tardes, noites e madrugadas inteiras repletas de risadas. Ainda assim era tudo muito utópico.
Me lembro de quando o Josh conheceu o Léo. Eu olhava as fotos e pensava: "Meu Deus! Quem são essas pessoas?"
Foram acontecendo outros encontros.
Percebi que na verdade não conhecia ninguém dalí. Na verdade, a palavra escrita nos dá a possibilidade de infinitas interpretações. Eu não sabia se realmente tinha entendido aquelas conversas e se aquelas pessoas realmente falavam do jeito que escreviam. As coisas pareciam, cada vez mais, um sonho.
Aos poucos a comunidade foi crescendo. Eu já não era a única mineira na mesa. Eu já não era a morena mais bonita da mesa, como diria o Rogério, junto com a Thatá. Alguns se afastaram, outros se aproximaram. A mesa sempre teve um fluxo constante de veteranos e novatos.
Quando encontrei a Luiza pela primeira vez foi como se nos conhecessemos há milhões de anos. E o mesmo aconteceu com o Josh, com a Izah, com o Litu, com o Pedro, com a Sih, com a Cissa, com a Tati e com a Fabi.
Fiquei me perguntando se eu realmente conhecia aquelas pessoas. Eu achava que elas não me conheciam. Mas pensando bem, nem eu me conhecia quando estava com elas. Todas as vezes que estive com os amigos da mesa, estive, sem sombras de dúvida, imensamente feliz. Quando estava com meus amigos eu não era a Ana, a Tereza, a Tétis ou a Aninha, era era a Tetê.
Amigos...
Esse é um peso que não gosto de colocar sobre os ombros de ninguém, ainda mais de pessoas que quase não sabem nada da minha vida. Meus 'hermanos' não sabiam a que lugares eu ia, como era a minha casa ou quantos anos tinham meus irmãos. Amigos? Não poderia chamá-los assim.
Ao mesmo tempo, eles me alegraram nos dias em que estive mais chateada e me tranquilizaram quando estive à beira de um ataque de nervos. Amigos, talvez.
Pensando bem éramos amigos, sim! Desprendidos dessas pequenezas mundanas: endereço, idade, ocupação, nivel social. Contávamos uns com os outros. Não para socorrer em caso de emergência ou para emprestar dinheiro, mas para dar um sorriso ou somente um oi se precisássemos.


Todos fomos crescendo juntos. A comunidade cresceu também. Surgiram novos membros outros antigos desapareceram.
No meio disso tudo acho que me prejudiquei um pouco, às vezes por ser tímida, às vezes por não gostar de msn. Ainda assim a mesa era um refúgio. Um lugar além dos problemas do mundo real.
Com o passar do tempo, a mesa passou a ter seus próprios problemas. Mensagens subentendidas, chumbo trocado. Nada mais normal. A mesa nos ensina também a relevar as coisas pequenas.
O tão sonhado namoro hermaníaco parecia cada vez mais próximo. Passamos a ter intimidade. Vi o amor realmente nascer entre um tópico e outro. Várias vezes.
Hoje, com quase 3 anos de mesa, fico orgulhosa com o relacionamento que todos construímos e ainda me surpreendo sempre. Me peguei confidenciando coisas que evitava de dizer até a mim mesma aos amigos da mesa. Amigos. Sim, amigos.
Hoje a gente já sabe um pouco como cada um reage diante das situações e o que cada um quis dizer com determinadas palavras e com determinados silêncios.
Sei que o Rogério é um cara com o coração muito bom e que ele gosta um pouquinho de mim mesmo tendo conversado pouquíssimas vezes com ele. Sei que a Thatá desperta em mim um sentimento de irmã mais velha e que ela me lembra muito eu mesma há uns anos atrás e que, por isso, sinto a necessidade de cuidar muito bem dela. Sei que posso esperar da Lívia uma mensagem a qualquer momento e que de vez em quando ela vai lembrar de mim. Sei que posso contar com o bom humor e o otimismo característicos da Fabi, que sempre botam a gente pra cima. Sei que divido com o Josh o orgulho de sermos precursores dessa comunidade e de ver um futuro pra mesa. Sei que o Ton é um cara grosso, folgado e muito tirado mas que também precisa de carinho e que às vezes as pessoas não entendem muito bem o que ele quis dizer. Sei que a Carú vai aparecer aqui a qualquer momento e falar um monte de bobagens frenéticas pra fazer a gente morrer de rir. Sei que o Pedro é um cara muito inteligente que não faz questão nenhuma de mostrar isso pra ninguém, mas que tá sempre disposto a ajudar. Sei que a Luiza é uma menina muito sensível e vai perceber se algo estiver errado e estará disposta a ajudar também. Sei que a Sih vai tentar animar qualquer um da mesa e vai tentar amenizar os conflitos com sei jeito engraçadinho e com uma 'mineiralidade' inegável. Sei que a Izah vai ser sempre uma mulher muito sedutora com jeito de menina e que vai sempre rir das nossas piadas. Sei que a Maria vai continuar com essa presença que de certa forma conforta a gente, sempre fiel. Sei que o Léo vai ser sempre o puto mais politicamente correto que eu conheço tão fiel quanto a Mari. Sei que a Cê vai ser sempre esse espírito contestador e indomável que inspira a gente. Sei que a Tati vai continuar defendendo a mesa e o seu ponto de vista com a sua própria vida,se precisar. Sei que a Cissa aparecerá vez ou outra, numa malemolência peculiar, escrevendo tudo junto, sem iniciar outro parágrafo. Sei que estarei sempre na expectativa de um post daqueles mais doidões da Nine ou de uma música ou video do Ivo ou de uma gracinha da Ju ou de palavras sem nexo do Litu ou de qualquer palavra da Mires que eleve meu ego ou qualquer coisa carioca que venha do Renan ou um post da Nathi sempre com saudade ou a empolgação normal da Nina.

A mesa de bar pra mim ainda é um mundo paralelo e confesso que gostaria muito que todos fizessem parte do meu dia-a-dia. Gostaria muitissimo de abraçar todos, um por um.
Contudo, já não posso dizer que a mesa é um sonho.
A mesa é o saudosismo dessa mãezona orgulhosa, é a alegria dessa veterana receptiva, é as meias palavras dessa mineira meio doida, é o caminho percorrido dessa menina morena.
A mesa é uma realidade. Não tão doce quanto eu sonhava, mas muito, muito maior e melhor do que eu sequer poderia imaginar.

17/06/2009

Ser resiliente

Ao longo dos anos a ciência tem-se interrogado sobre o fato de que certas pessoas têm a capacidade de superar as piores situações, enquanto outras ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia que se abateram sobre elas. Por que certos indivíduos são capazes de se levantar após um grande trauma e outros permanecem no chamado fundo do poço, incapazes de, mesmo sabendo não ter mais forças para cavar, subir tomando como apoio as paredes desse poço e continuar seu caminho?
A biologia defende o ponto de vista de que cada ser humano é dotado de um potencial genético que o faz ser mais resistente que outros. A psicologia, por sua vez, dá realce e importância das relações familiares, sobretudo na infância, que construirá nesse individuo a capacidade de suportar certas crises e de superá-las. A sociologia vai fazer referência à influência do entorno, da cultura, das tradições como construtores dessa capacidade do individuo de suplantar as adversidades. A teologia traz uma perspectiva diferente pela própria subjetividade transcendente, uma visão outra da condição humana e da necessidade do sofrimento como fator de evolução espiritual: o célebre “dar a outra face”.


Contudo, foi o cotidiano das pessoas que passam por traumas, que realmente atravessam o vale das sombras, o que realmente atraiu a curiosidade de cientistas do mundo inteiro. Não são personagens de ficção que se erguem após a grande queda; são homens, mulheres, crianças, velhos, o indivíduo comum do mundo que retoma sua vida após a morte de um filho, a perda de uma parte de seu corpo, a perda do emprego, doenças graves, físicas ou psíquicas, em si mesmo ou em alguém da família, razões suficientes para levar um individuo ao caos. Esses que são capazes de continuar uma vida de qualidade, sem auto-punições, sem resignação destruidora, que renascem dos escombros, esses são seres resilientes.
A psicologia tomou essa imagem emprestada da física, trata-se da capacidade dos materiais de resistirem aos choques. Segundo dicionário Aurélio, é a propriedade de pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal de formação elástica. Definiu-se então resiliência como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc. - sem entrar em surto psicológico. Resiliência é a capacidade concreta de retornar ao estado natural de excelência, superando uma situação critica.

"É A ARTE DE TRANSFORMAR TODA ENERGIA DE UM PROBLEMA EM UMA SOLUÇÃO CRIATIVA."

Não se é resiliente sozinho, embora a resiliência seja íntima e pessoal. Um dos fatores de maior importância é o apoio e o acolhimento, feito em geral por um outro individuo, e essencial para o salto qualitativo que se dá. Alguns autores nomearam essas pessoas: Flash chamou-o mentor de resiliência; Cyrulnik chamou-o tutor de resiliência; muito antes Bolwby chamou-o figura de apego.
Essa linha de pensamento só vem a reafirmar o que tenho dito discretamente em vários dos meus últimos posts: Não é possível viver (bem) sozinho." Na verdade isso nunca foi novidade. Quem nunca se pegou cantando em algum momento da vida o célebre verso de Tom Jobim: "É impossível ser feliz sozinho..."?
Mas ao estudar o evento da resiliência conclui o que já sabia e tanto esperava. Apesar do vínculo, não se forma um mentor/tutor/figura de apego durante a resiliência. Não se pode dizer que alguém vai ser a partir de agora esse individuo que vai chegar para operar o milagre. A resiliência é, na verdade, o resultado de intervenções de apoio, de otimismo, de dedicação e amor, idéias e conceitos que entram sorrateiramente nas ciências como causa e efeito, intervenção e resultado, hipótese e tese de que as relações intra e interhumanas são relações que ultrapassam o rigor do empirismo para encontrar o acaso.
Não estamos presos, graça a Deus, ao estigma imposto durante a infância. Tampouco seremos somente fruto do meio onde vivemos. Nosso destino também não está traçado por estrelas ou genes. Somos universos em constante expansão e não termos sido resilientes no passado, não nos impede de sermos resilientes no futuro.
Viver é ter esperança. E caminhar. Sempre existem possibilidades.

15/06/2009

Pra ser sincera



Toda vez que toca o telefone eu penso que é você. Toda noite de insônia eu penso em te escrever pra dizer que o teu silêncio me agride e não me agrada ser um calendário do ano passado. Prá dizer que teu crime me cansa e não compensa entrar na dança depois que a música parou. A música parou...
O que você não pode, eu não vou lhe pedir. O que você não quer, eu não quero insistir.

13/06/2009

Cardiocitação



Há um grande cansaço na alma do meu coração. Entristece-me que eu nunca fui e eu não sei que espécie de saudade é a lembrança que eu tenho dele. Caí contra as esperanças e as certeza, com os poentes todos.
Fernando Pessoa

08/06/2009

O céu de inverno

Poucas coisas atraem tanto o meu olhar quanto o céu nos dias de inverno.
É um azul tão límpido colorido uniformemente como se fosse um tecido.
Devagarzinho ele cai e vai clareando até tocar o chão, branco como leite.
As nuvens não sequer se atrevem a nos distrair da beleza do céu de inverno.
O sol também se rende à imensidão celeste.
Ele se empenha em apenas iluminar.
Distribui um calor brando que mais parece um abraço.


Nas manhãs de inverno meus olhos parecem ter vida própria. Teimosos, insistem em se voltar sempre para o anil do céu. Fixos.
Um imenso vazio azul.
Acho que o céu de inverno para mim é como o mar para aqueles que moram no litoral.
Talvez menos leviano e traiçoeiro. Talvez mais discreto e sutil.


O céu de inverno é um pouco como povo mineiro.
Tímido e manso.
Passa despercebido por aqueles que se preocupam demais.
Com o frio, com as relações sociais.
Mas ah! O céu de inverno aquece até os corações mais gelados.









[As fotos desse post são de pequenas cidades do interior de Minas. Acho que nem o mineiro sabe a beleza que guarda o seu estado.]

31/05/2009

Eu quero viver tudo até o fim, descobri.

Quero que tudo em minha vida seja intenso.
Que eu me faça sempre de coitada;
que eu seja sempre a mais chorona;
que eu seja sempre a mais barraqueira.

Quero que tudo em minha vida seja grande.
Que todos os meus romances sejam os últimos.
Que eu tenha tantos romances quanto o tempo me deixar.
Que toda paixão me arrebate.

Quero que tudo em minha vida seja profundo.
Que toda dor me faça sangrar.
Que toda perda me faça chorar.
Que eu possa sempre me iludir.

Quero que tudo em minha vida seja pleno.
Que todo meu sofrimento seja desmesurado.
Que todo meu pensamento vá além.
Que todo o meu amor seja compartilhado.

Quero que tudo em minha vida seja absoluto.
Que toda mudança seja radical.
Que todo desejo seja incontrolável.
Que toda idéia seja incontestável.


Quero que tudo em minha vida seja inteiro.
Que eu esteja sempre pronta pra recomeçar.
Que eu esteja sempre alerta para enxergar.
Que eu esteja sempre disposta a aprender.



Que eu possa, queira e consiga me entregar todas as manhãs.
Que todas as minhas tardes sejam completas de amor ou de dor.
Que durante a noite eu possa me encontrar.
Que eu tenha sempre prazer em tudo o que faço.

Que eu possa ter o desejo de não desejar mais.
Que eu queira parar às vezes.
Que eu tenha coragem pra parar quando precisar.
Que eu tenha humildade para rever meus atos.

Que meu coração bata mais rápido às vezes.
Que às vezes meu coração pare de bater.
Que eu chore até minhas lágrimas acabarem.

Que eu sorria até minhas bochechas doerem.


Que eu possa crescer a cada dia.
Que eu tenha sabedoria.
Que eu tenha vontade de não viver às vezes.
Que o sol se ponha e, depois da escuridão, que ele nasça denovo.


Quero que tudo em minha vida seja eterno. Até o fim.

25/05/2009

O PODER DA MENTE

Você, cético de plantão, preste atenção no que eu vou lhe dizer.
O essencial é invisível aos olhos.
Não se deixe levar pela aparência clichê da frase. Leia novamente.
O essencial é invisível aos olhos.

Agora pense bem.
O que é essencial pra você?
Os mais românticos dirão, com certeza, que é o amor. Os mais capitalistas, o conforto. Os enfermeiros, os médicos, os fisioterapeutas e todos os profissionais da área, a saúde. O senso comum, a felicidade. Pois bem, vivemos para desfrutar de substantivos abstratos.
Era assim que eu interpretava essa frase.

Não sou um poço de conhecimento, longe disso! Mas existem coisas que me despertam a mente e que me fazer destoar do resto da minha turma de Enfermagem. E é justamente a mente que mais me intriga. Um amontoado de proteínas, carboidratos e sei-lá-mais-o-que conduzindo corrente elétrica e formando assim uma outra dimensão. O que você vê é criado pelo seu cérebro. O gosto que você sente é criado pelo cérebro. O seu mau humor, sua personalidade, tudo. Tudo veio dos íons se movimentando dentro de você. Me parece, no mínimo, extraordinário. Apesar de estranho, ainda consigo compreender.

O que não faz absolutamente sentido nenhum é como o cérebro interage com o meio externo. Sim, ele interage com o meio externo!
É pra mim quase doloroso admitir isso, mas realmente existe o poder da mente. Não falo daquele lerolero de 'o segredo'. Falo da tal dimensão criada pelo cérebro. Talvez sejam hormônios, sei lá, mas seu cérebro faz com que suas vontades, as quais muitas vezes nem você conhece, sejam realizadas.

É como aquele dia que você acordou de bom humor e todo mundo resolveu te elogiar. É como as 934532012 entrevistas de emprego a que você foi e não deram em nada. É o famoso "Tudo tem seu tempo". A verdade é que seu cérebro te conhece mais do que você mesmo. Isso se deve às diferenças nos níveis de consciência e aquela história de Id, ego e superego. Ainda assim, como podem nossos sentimentos transparecerem tanto?
Por que você atrai um tipo X de pessoa, fulano atrai um tipo Y e ciclano não atrai ninguém? Por que o dia em que você resolver ligar o foda-se é o dia em que as coisas dão mais certo? Existem algo invisível que pode ser sentido pelas pessoas. E rá! Ele é produzido pelo cérebro.

Chamem de alma, auto-estima, aura, energia, o que for. Eu só queria uma explicação pra isso. Sabe como é... Coisa de sagitarianos! ;)

24/05/2009

Posse e desejo

Como é difícil querer o que se tem.
Muitas vezes a gente se acha um tanto ingrato por não amar o que a vida nos deu.
Mas como saber o que realmente nos pertence? Algumas coisas parecem convenientemente colocadas a nossa vista e já não se pode dizer o quão boas elas realmente são.
Me parece que gostar ou não do que se tem é uma atitude absolutamente conformista. Uma estagnação de quem tem medo de ir a luta, de abrir mão do que se tem. Mas o que se tem mesmo?

Não falo de otimismo. Falo de ignorar as infinitas possibilidades que a vida nos dá. Querer algo novo, algo diferente, algo melhor. E reconhecer quando obtemos. Falo de abster-se de uma passividade protetora e olhar pra frente.
Somos levados a nos conformar com o que temos e aprender a gostar. Eu acho isso muito pouco.
Temos sim que ver o lado positivo das coisas, mas para preservá-las na busca de algo melhor.
E temos que arriscar,pois nunca se sabe se algo realmente lhe pertecerá.
Por isso é difícil querer o que se tem.
Encontrar nossos desejos e buscá-los já é por si só uma tarefa árdua. Reconhecê-los e admirá-los é ainda mais penoso. Abrir mão e buscar novos caminhos é divino.

21/05/2009

O inferno são os outros

O que eu mais queria era conseguir viver sozinha.
Abandonar essa idéia medíocre de viver em sociedade.
Mas, como diria meu pai, é impraticável.

Quanto mais a consciência se expande, maior a necessidade de socializar.
Estabelecemos uma relação de dependência.
Que se fodam o telencéfalo desenvolvido e o polegar opositor, não sei viver sem ter você.

Você quem?
Você todo mundo.
Você que atrapalha os meus planos. Você que não me dá o que preciso. Você que me faz precisar.
Estamos destinados à esse eterno buscar. Ah vida!

Me parece uma brincadeira de mau gosto, na verdade.
Nós, seres humanos racionais, temos a capacidade de alcançar o infinito e ficamos presos à detalhes, como estudar, trabalhar, ganhar dinheiro e se reproduzir.
Fico a me perguntar: pra quê?

Envolvidos numa rotina deplorável e nos torturando todos os dias por coisas tão banais.

Vivemos pra atingir ideais que não representam absolutamente nada.

Nos convencemos sempre de continuar nesse estado de morbidez.

Vez ou outra, porém, algo nos tira da inércia.
Um amor não correspondido, a morte de alguém querido.
É quando a gente pára, ou pelo menos deveria parar, pra se perguntar: QUE PORRA É ESSA?

Como dói uma frustração.
É desnorteante se decepcionar com alguém.
Construímos sonhos em cima de sonhos, numa tentativa frustrada de achar algum sentido pra essa vida louca. Então aparece alguém pra acabar com tudo.
Alguém que simplesmente não adivinhou o que você pensava. Alguém que simplesmente não dividiu-se com você.

E aí, que vontade que dá de ser auto-suficiente! rs
De poder ser um ermitão e viver absolutamente só.
Porque pensando bem, não preciso de tudo isso. Não preciso de profissão, nem de dinheiro, nem de conforto. Isso tudo só serve para termos no fim um tempo para nós.
Damos tantas voltas, causamos tantos contratempos, geramos tanto sofrimento pra, no final, enxergamos nós mesmos. E a cada dia tem sido mais difícil olharmo-nos.


Reconheço então que não posso viver sozinha.
Só através dos olhos das outras pessoas é que alguém consegue se ver como parte do mundo. Sem a convivência uma pessoa não pode se ver por inteiro.
"O ser para-si só é para-si através do outro." Dizia Sartre, roubando a idéia de Hegel.

Então eu chego a conclusão de que não há tamanho mal em ser individualista.
Cada um é um universo, como já disse em outro post. A capacidade de crescer e vir a aprender algo depende mais de você do que do outro.
Já não me preocupo em ensinar ou em realizar a expectativa alheia.
Somos incompletos, mas não sabemos com o que devemos nos completar.
Divertir-me-ei em viver. Eu mesma hei de me decepcionar, e já me decepciono, com os caminhos tortos dessa vida.
E isso me faz sofrer menos. Continuo a caminhar.



14/05/2009

Sobre a espera


Esperar, v. t. Confiar; aguardar; estar na expectativa.


A maior dificuldade em esperar é justamente confiar.

Esperar, como a maioria das coisas nessa vida, diz mais sobre você mesmo do que sobre os outros.

Esperando é que se desafia.


Esperar qualquer coisa dos outros é desejar que lhe preencham o vazio.

Esperar algo ou alguém é estar sozinho e conviver com isso.

Esperar é se entregar, é esperança.


Esperar é acreditar em si e no merecimento que te cabe.

Esperar é não ser, é torna-se.

Esperar não é aguardar.


Esperar alguém amado é desejar a pessoa que tu és quando estão juntos.

Esperar um momento é preparar-se para fazê-lo.

Esperar uma dádiva é não ter convicção de que ela já seja sua.


Esperar definitivamente não é questão de tempo.

É saber relacionar-se consigo.

É saber o que lhe falta e desejar.


Espera aquele que se entregou ao desejo.

Esperar é algo quase passional.

Esperar é render-se.


"Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. "

10/05/2009

Redefinirmos


Vale-nos, de nossas quedas erguemo-nos
E tentar prosseguir.


Tentar construir a certeza de novas caminhos.
Cumpre-nos concedermos a luz em nós
E libertar a certeza de nossa voz
E tentar prosseguir...

Sempre mais.
Ver que somos o Porto e o Cais,
O alicerce de guerra e paz,
Temos que definir...

Quem somos nós...
Do que somos iguais sem vós?
Cúmplice de todos nós
Se uma flor não florir.

E tanto mais...
ver que somos os bens e os maus;
Da vida somos a luz e o caos;
Cabe-nos definir.

Quem somos nós.
Da vida somos todos sem,
Pra vida o caminho e a paz
E a dor construir.

E então ergamo-nos!

Partiremos de onde caímos,
Levaremos os sonhos que temos,
Temos é que prosseguir!

E então iremos nós...
Levaremos a flor que colhermos;
Espalharemos a luz que tivemos;
Para que outros nos possam seguir!

E cada um de nós,
Tendo em si o alicerce de um sonho bom,
Construir um raiar de um amanhã melhor.

Temos chances de conseguir...
Herbert Alencar Medrado
De tempos em tempos eu releio tudo o que escrevi e sempre encontro os textos e as músicas do meu tio Binha. É engraçado como são sempre convenientes e atuais. É curioso como coincide de estar sempre perto de uma data importante pra minha família. "É tão estranho... Os bons morrem antes..."

27/04/2009

Universo Particular

Viver é estar sempre ocilando entre tempestade e bonança permeados por dias de
Como diria Vander Lee: Há meses que fazem chuva, semanas que fazem sol e dias que tanto faz.

O que sempre pensei é que essa tempestade constitui-se de nossas próprias gotas de chuva que caem, quase sempre, em copos d'água.
Como são pequenos nossos problemas frente ao caos em que vivemos...
Como somos medíocres frente à imensidão do universo...




Amanheci com um pensamento diferente.



O que somos além de um infinito privado?
Cada um é um universo inteiro...
Um complexo sistema interativo e autônomo.
Não penso mais que meus problemas são maiores ou menores, que meus sentimentos são mais ou menos intensos.
Não se compara coisas diferentes.

E então chego à mesma conclusão de outrora:
Depois de toda tempestade (em copo d'água) vem a bonança.
Passar por dificuldades mesmo que criadas por nós, é necessário.
O mundo gira por nós.
É o processo natural das coisas. A lei básica da química. Desconstruir para construir.

Não leve tudo muito a sério. Deixe-se levar.






17/04/2009

Pro dia nascer feliz

Mudar deveria ser, e no fim das contas realmente é, uma constante em nossas vidas.
É o que dizia um poema que li em um dos vários banners espalhados pela faculdade.
"Nascer é muito comprido."


Um sonho nunca é sonhado duas vezes.
Um pensamento jamais está duas vezes no mesmo lugar.
A maioria das nossas mudanças acontecem sozinhas e rotineiramente.
É o que chamamos de maturidade.
Entretanto existem coisas que precisam ser mudadas pelo nosso esforço. Essas são as que nos fazem sofrer mais.

Tanto sofrimento não vem (somente) do tempo e energia dispendidos nesse processo, mas da dificuldade que é saber o que mudar e, principalmente, como fazê-lo.
Reconhecer nossos pontos fracos é uma uma tarefa assás árdua, mas necessária e ainda mais compensadora. Isso porque além de explicar nossas maiores dificuldades nos dá a falsa esperança de que tudo vai se resolver.

Aí você se depara com uma verdade atormentadora: Como?
Impreterívelmente você percebe que, para seu desespero, você precisa sim dos outros.
E precisa que eles tenham o discernimento que você teve e se proponham a mudar também.
E ah! Esperar qualquer coisa é demasiadamente torturante.


Pra piorar, você percebe que o problema quase sempre é você.
Você e seus valores tão bem arraigados, seus dons e seus talentos.
O problema é você e toda a sua invencibilidade mascarada de sensibilidade ou vice-versa.

É claro que se procurar você sempre achará algum outro culpado indireto. A culpa não é sempre da mãe? Freud era realmente esperto. Só gostaria de lhe fazer uma pergunta: E DAÍ?


Não é possível mudar o que já está feito.
Abrir mão de si também faria todo o processo perder completamente o sentido.
Devemos mudar, mudar completamente, mudar o futuro sem mudar o passado...
Mas devemos continuar sendo nós mesmos, firmes e decididos.
É preciso mudar para sermos cada vez mais nós mesmos.
Mudar o você que o outro vê sem mudar o outro.


Às vezes acho que isso é simplesmente impossível.
Como dizer as palavras que estão presas no fundo da garganta sem usar a sua voz?
Como caminhar sem usar seus pés?
Como não mudar quando se está mergulhado no problema que outrora você nem sequer conhecia?
Como abrir mão do seu eu pra que ele seja você?




Nascer é muito comprido.




16/04/2009

Sem nome 57

Desprendo-me de vícios e virtudes
vou me desfazendo de conceitos
rasos e ocos de plenitude

sinto a liberdade possuir-me
me consumindo pouco a pouco
em seus braços o céu é mais azul

Sorrateira a felicidade vem
a fazer-me cócegas na alma
dá-me amnésia de algo que não tive


Nada mais é passível de existência
nem mesmo o nada pode ser dito
é possível tocar o infinito

Vejo sons e toco cores
ouço o meu corpo voar alto
envolve-me a dança irresistível da paz

Uma luz toca meus olhos como raio
como se me acordasse de um sonho
foge minh'alma, desse lugar que não te pertence!