29/06/2009

Sem Nome 58



O jogo de interesses,
o jogo do interesse.
Tocar, abraçar, apertar
pra ver se é você.

Querer ver até onde vai,
pagar pra ver e nao receber.
Provocar, atrair seu olhar
maltratar pra poder vencer.

Se mostrar, se convencer.
Querer agradar, querer possuir .
Exigir que o outro seja
o que você não ousa conseguir.
Seduzir.






[14/05/2009]

21/06/2009

Bares, mesas e amizade


A mesa de bar começou pra mim como uma grande brincadeira.
Não que eu não quisesse realmente um 'namoro hermaníaco'. Eu sempre quis, e ainda quero, um namorado que goste de los hermanos, mas não somente. Tampouco esperava conhecê-lo pelo orkut.
Imagine! Era uma idéia absurda conhecer pessoalmente alguém que você somente conversava pela internet.
O orkut e o msn eram ainda uma novidade na época e eu achava o máximo entrar em todas as comunidades engraçadinhas que eu via pela frente. "Eu quero um namoro hermaníaco" foi só mais uma delas.
Criei um tópico com o intuito de conhecer pessoas de BH que tivessem a mesma vontade. Nos adicionaríamos no msn e conversaríamos, mas nunca pensei realmente em conhecer, muito menos namorar, ninguém. Tudo aquilo fazia parte de um mundo paralelo, um mundo virtual.
Então veio o tópico do "agora vai", idéia daquele que viria a ser o maior defensor desse sonho.
A comunidade ocupava minha mente durante todo o dia, mas era um assunto sobre o qual não conversava muito. Me parecia irreal. Eu tinha a sensação de que entrar no orkut e conversar com meus amigos da 'mesa de bar' era como deitar, adormecer e sonhar.

Surgiu a comunidade da 'mesa de bar'. Éramos umas 17 pessoas, se não me engano, e eu não tinha ouvido sequer a voz de nenhuma delas. Aquilo tudo estava muito distante da minha realidade.
Na verdade eu não me abria muito com essas pessoas. Primeiro porque realmente não é do meu feitio. Depois porque nunca precisei. Estar ali num tópico livre ou numa janela coletiva do msn fazia com que todos os meus problemas desaparecerem.
Com aquelas pessoas que eu nem sabia se eram alas ou baixas, gordas ou magras, se alguém era fanho ou se tinha 6 dedos na mão, com eles tudo era mais belo.
Falávamos quase sempre de amor, de música e de outros assuntos tão leves quanto. Eram tardes, noites e madrugadas inteiras repletas de risadas. Ainda assim era tudo muito utópico.
Me lembro de quando o Josh conheceu o Léo. Eu olhava as fotos e pensava: "Meu Deus! Quem são essas pessoas?"
Foram acontecendo outros encontros.
Percebi que na verdade não conhecia ninguém dalí. Na verdade, a palavra escrita nos dá a possibilidade de infinitas interpretações. Eu não sabia se realmente tinha entendido aquelas conversas e se aquelas pessoas realmente falavam do jeito que escreviam. As coisas pareciam, cada vez mais, um sonho.
Aos poucos a comunidade foi crescendo. Eu já não era a única mineira na mesa. Eu já não era a morena mais bonita da mesa, como diria o Rogério, junto com a Thatá. Alguns se afastaram, outros se aproximaram. A mesa sempre teve um fluxo constante de veteranos e novatos.
Quando encontrei a Luiza pela primeira vez foi como se nos conhecessemos há milhões de anos. E o mesmo aconteceu com o Josh, com a Izah, com o Litu, com o Pedro, com a Sih, com a Cissa, com a Tati e com a Fabi.
Fiquei me perguntando se eu realmente conhecia aquelas pessoas. Eu achava que elas não me conheciam. Mas pensando bem, nem eu me conhecia quando estava com elas. Todas as vezes que estive com os amigos da mesa, estive, sem sombras de dúvida, imensamente feliz. Quando estava com meus amigos eu não era a Ana, a Tereza, a Tétis ou a Aninha, era era a Tetê.
Amigos...
Esse é um peso que não gosto de colocar sobre os ombros de ninguém, ainda mais de pessoas que quase não sabem nada da minha vida. Meus 'hermanos' não sabiam a que lugares eu ia, como era a minha casa ou quantos anos tinham meus irmãos. Amigos? Não poderia chamá-los assim.
Ao mesmo tempo, eles me alegraram nos dias em que estive mais chateada e me tranquilizaram quando estive à beira de um ataque de nervos. Amigos, talvez.
Pensando bem éramos amigos, sim! Desprendidos dessas pequenezas mundanas: endereço, idade, ocupação, nivel social. Contávamos uns com os outros. Não para socorrer em caso de emergência ou para emprestar dinheiro, mas para dar um sorriso ou somente um oi se precisássemos.


Todos fomos crescendo juntos. A comunidade cresceu também. Surgiram novos membros outros antigos desapareceram.
No meio disso tudo acho que me prejudiquei um pouco, às vezes por ser tímida, às vezes por não gostar de msn. Ainda assim a mesa era um refúgio. Um lugar além dos problemas do mundo real.
Com o passar do tempo, a mesa passou a ter seus próprios problemas. Mensagens subentendidas, chumbo trocado. Nada mais normal. A mesa nos ensina também a relevar as coisas pequenas.
O tão sonhado namoro hermaníaco parecia cada vez mais próximo. Passamos a ter intimidade. Vi o amor realmente nascer entre um tópico e outro. Várias vezes.
Hoje, com quase 3 anos de mesa, fico orgulhosa com o relacionamento que todos construímos e ainda me surpreendo sempre. Me peguei confidenciando coisas que evitava de dizer até a mim mesma aos amigos da mesa. Amigos. Sim, amigos.
Hoje a gente já sabe um pouco como cada um reage diante das situações e o que cada um quis dizer com determinadas palavras e com determinados silêncios.
Sei que o Rogério é um cara com o coração muito bom e que ele gosta um pouquinho de mim mesmo tendo conversado pouquíssimas vezes com ele. Sei que a Thatá desperta em mim um sentimento de irmã mais velha e que ela me lembra muito eu mesma há uns anos atrás e que, por isso, sinto a necessidade de cuidar muito bem dela. Sei que posso esperar da Lívia uma mensagem a qualquer momento e que de vez em quando ela vai lembrar de mim. Sei que posso contar com o bom humor e o otimismo característicos da Fabi, que sempre botam a gente pra cima. Sei que divido com o Josh o orgulho de sermos precursores dessa comunidade e de ver um futuro pra mesa. Sei que o Ton é um cara grosso, folgado e muito tirado mas que também precisa de carinho e que às vezes as pessoas não entendem muito bem o que ele quis dizer. Sei que a Carú vai aparecer aqui a qualquer momento e falar um monte de bobagens frenéticas pra fazer a gente morrer de rir. Sei que o Pedro é um cara muito inteligente que não faz questão nenhuma de mostrar isso pra ninguém, mas que tá sempre disposto a ajudar. Sei que a Luiza é uma menina muito sensível e vai perceber se algo estiver errado e estará disposta a ajudar também. Sei que a Sih vai tentar animar qualquer um da mesa e vai tentar amenizar os conflitos com sei jeito engraçadinho e com uma 'mineiralidade' inegável. Sei que a Izah vai ser sempre uma mulher muito sedutora com jeito de menina e que vai sempre rir das nossas piadas. Sei que a Maria vai continuar com essa presença que de certa forma conforta a gente, sempre fiel. Sei que o Léo vai ser sempre o puto mais politicamente correto que eu conheço tão fiel quanto a Mari. Sei que a Cê vai ser sempre esse espírito contestador e indomável que inspira a gente. Sei que a Tati vai continuar defendendo a mesa e o seu ponto de vista com a sua própria vida,se precisar. Sei que a Cissa aparecerá vez ou outra, numa malemolência peculiar, escrevendo tudo junto, sem iniciar outro parágrafo. Sei que estarei sempre na expectativa de um post daqueles mais doidões da Nine ou de uma música ou video do Ivo ou de uma gracinha da Ju ou de palavras sem nexo do Litu ou de qualquer palavra da Mires que eleve meu ego ou qualquer coisa carioca que venha do Renan ou um post da Nathi sempre com saudade ou a empolgação normal da Nina.

A mesa de bar pra mim ainda é um mundo paralelo e confesso que gostaria muito que todos fizessem parte do meu dia-a-dia. Gostaria muitissimo de abraçar todos, um por um.
Contudo, já não posso dizer que a mesa é um sonho.
A mesa é o saudosismo dessa mãezona orgulhosa, é a alegria dessa veterana receptiva, é as meias palavras dessa mineira meio doida, é o caminho percorrido dessa menina morena.
A mesa é uma realidade. Não tão doce quanto eu sonhava, mas muito, muito maior e melhor do que eu sequer poderia imaginar.

17/06/2009

Ser resiliente

Ao longo dos anos a ciência tem-se interrogado sobre o fato de que certas pessoas têm a capacidade de superar as piores situações, enquanto outras ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia que se abateram sobre elas. Por que certos indivíduos são capazes de se levantar após um grande trauma e outros permanecem no chamado fundo do poço, incapazes de, mesmo sabendo não ter mais forças para cavar, subir tomando como apoio as paredes desse poço e continuar seu caminho?
A biologia defende o ponto de vista de que cada ser humano é dotado de um potencial genético que o faz ser mais resistente que outros. A psicologia, por sua vez, dá realce e importância das relações familiares, sobretudo na infância, que construirá nesse individuo a capacidade de suportar certas crises e de superá-las. A sociologia vai fazer referência à influência do entorno, da cultura, das tradições como construtores dessa capacidade do individuo de suplantar as adversidades. A teologia traz uma perspectiva diferente pela própria subjetividade transcendente, uma visão outra da condição humana e da necessidade do sofrimento como fator de evolução espiritual: o célebre “dar a outra face”.


Contudo, foi o cotidiano das pessoas que passam por traumas, que realmente atravessam o vale das sombras, o que realmente atraiu a curiosidade de cientistas do mundo inteiro. Não são personagens de ficção que se erguem após a grande queda; são homens, mulheres, crianças, velhos, o indivíduo comum do mundo que retoma sua vida após a morte de um filho, a perda de uma parte de seu corpo, a perda do emprego, doenças graves, físicas ou psíquicas, em si mesmo ou em alguém da família, razões suficientes para levar um individuo ao caos. Esses que são capazes de continuar uma vida de qualidade, sem auto-punições, sem resignação destruidora, que renascem dos escombros, esses são seres resilientes.
A psicologia tomou essa imagem emprestada da física, trata-se da capacidade dos materiais de resistirem aos choques. Segundo dicionário Aurélio, é a propriedade de pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal de formação elástica. Definiu-se então resiliência como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc. - sem entrar em surto psicológico. Resiliência é a capacidade concreta de retornar ao estado natural de excelência, superando uma situação critica.

"É A ARTE DE TRANSFORMAR TODA ENERGIA DE UM PROBLEMA EM UMA SOLUÇÃO CRIATIVA."

Não se é resiliente sozinho, embora a resiliência seja íntima e pessoal. Um dos fatores de maior importância é o apoio e o acolhimento, feito em geral por um outro individuo, e essencial para o salto qualitativo que se dá. Alguns autores nomearam essas pessoas: Flash chamou-o mentor de resiliência; Cyrulnik chamou-o tutor de resiliência; muito antes Bolwby chamou-o figura de apego.
Essa linha de pensamento só vem a reafirmar o que tenho dito discretamente em vários dos meus últimos posts: Não é possível viver (bem) sozinho." Na verdade isso nunca foi novidade. Quem nunca se pegou cantando em algum momento da vida o célebre verso de Tom Jobim: "É impossível ser feliz sozinho..."?
Mas ao estudar o evento da resiliência conclui o que já sabia e tanto esperava. Apesar do vínculo, não se forma um mentor/tutor/figura de apego durante a resiliência. Não se pode dizer que alguém vai ser a partir de agora esse individuo que vai chegar para operar o milagre. A resiliência é, na verdade, o resultado de intervenções de apoio, de otimismo, de dedicação e amor, idéias e conceitos que entram sorrateiramente nas ciências como causa e efeito, intervenção e resultado, hipótese e tese de que as relações intra e interhumanas são relações que ultrapassam o rigor do empirismo para encontrar o acaso.
Não estamos presos, graça a Deus, ao estigma imposto durante a infância. Tampouco seremos somente fruto do meio onde vivemos. Nosso destino também não está traçado por estrelas ou genes. Somos universos em constante expansão e não termos sido resilientes no passado, não nos impede de sermos resilientes no futuro.
Viver é ter esperança. E caminhar. Sempre existem possibilidades.

15/06/2009

Pra ser sincera



Toda vez que toca o telefone eu penso que é você. Toda noite de insônia eu penso em te escrever pra dizer que o teu silêncio me agride e não me agrada ser um calendário do ano passado. Prá dizer que teu crime me cansa e não compensa entrar na dança depois que a música parou. A música parou...
O que você não pode, eu não vou lhe pedir. O que você não quer, eu não quero insistir.

13/06/2009

Cardiocitação



Há um grande cansaço na alma do meu coração. Entristece-me que eu nunca fui e eu não sei que espécie de saudade é a lembrança que eu tenho dele. Caí contra as esperanças e as certeza, com os poentes todos.
Fernando Pessoa

08/06/2009

O céu de inverno

Poucas coisas atraem tanto o meu olhar quanto o céu nos dias de inverno.
É um azul tão límpido colorido uniformemente como se fosse um tecido.
Devagarzinho ele cai e vai clareando até tocar o chão, branco como leite.
As nuvens não sequer se atrevem a nos distrair da beleza do céu de inverno.
O sol também se rende à imensidão celeste.
Ele se empenha em apenas iluminar.
Distribui um calor brando que mais parece um abraço.


Nas manhãs de inverno meus olhos parecem ter vida própria. Teimosos, insistem em se voltar sempre para o anil do céu. Fixos.
Um imenso vazio azul.
Acho que o céu de inverno para mim é como o mar para aqueles que moram no litoral.
Talvez menos leviano e traiçoeiro. Talvez mais discreto e sutil.


O céu de inverno é um pouco como povo mineiro.
Tímido e manso.
Passa despercebido por aqueles que se preocupam demais.
Com o frio, com as relações sociais.
Mas ah! O céu de inverno aquece até os corações mais gelados.









[As fotos desse post são de pequenas cidades do interior de Minas. Acho que nem o mineiro sabe a beleza que guarda o seu estado.]