27/09/2009

Algum remédio que me dê alegria

Os últimos posts têm um tom melancólico que eu não esperava de mim mesma. Todos com o mesmo tipo de frustração com relação às pessoas. Escorre culpa pelas frases. Culpa de ter esperado que o outro me desse o que eu não tenho. Saber que vivo em função do outro foi uma descoberta que me doeu. E doeu mais saber que isso nao tem solução.

O encontro de novos problemas e antigas dificuldades me sensibilizaram mais do que eu esperava. Me surpreendo quando vejo a mulher fraca e chorona na qual aquela menina forte se transformou. Me decepciono comigo mesma. Não me desapeguei do que era mais importante. Aprendi a teoria corretamente e não consegui por em prática. Tenho matado bem mais que um leão por dia.
Me surpreendi ao me ver perdendo o sono por coisas banais. Há semanas não consigo parar de chorar. Não desgrudo do telefone e nao tenho mais assunto pra conversar. Parei de escrever. Pensei muitas vezes em acabar com tudo. Não o fiz ou por não assumir minha fraqueza ou por ser covarde demais. Talvez seja meu inferno astral denovo.

Tive raiva, tive tristeza, tive mais tristeza. Talvez eu não mereça ser feliz, enfim. Talvez eu não consiga. Se esse é o sofrimento tão prazeroso do qual os poetas falavam, acho que não quero amar.

Ficarei por aqui. Não tenho gostado das minhas palavras, tampouco de mim.

16/09/2009

De pensar

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.


Fernando Pessoa

[Sem muito ânimo e inspiração pra escrever, faço minhas as palavras de Fernando Pessoa. Ele sempre sabe o que dizer nos momentos difíceis.]





11/09/2009

Como se tornar um ladrão

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
E então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por quê? Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava. E é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então! E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples... É porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.



Luís Fernando Veríssimo

06/09/2009

A falta que a falta faz [2]

Acordei pensando que não quero mais sentir falta. Me esqueci a falta que a falta faz.
conlui que somos mesmo masoquitas e gostamos de sofrer.
Sofrer de saudade, sofrer com a dúvida, sofrer com a decepção.
Concluí também que mesmo sabendo disso minha atitude é certa. Preciso me defender.
Preciso querer não querer, pra não sofrer depois.
Mas, tentar evitar algo que talvez já exista, é sofrer igualmente.

E querer mais. Ou menos. Agora parece fazer mais sentido pra mim.
O desejo é uma desordem. Te querer não faz sentido.
Mas, ah! Como queria somente te querer e mais nada!

As notícias a respeito de você me assustam e me fazem querer correr.
Sei que chegará a hora em que eu as anunciarei.
Mas, ah! Como queria somente te querer e mais nada!

Mais que te querer, queria ser o seu bem-querer.

04/09/2009

Não sei porque você se foi...

SAUDADE, s. f. Recordação ao mesmo tempo triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; pesar pela ausência de pessoa(s) querida(s); nostalgia; -s: cumprimentos; lembranças afetuosas a pessoas ausentes.


Bobagens, Senhor Aurélio!

Saudade só tem significado pra quem sente.
Falar sobre saudade é ser, mais que clichê, um grande piegas.
Falaram de saudade os grandes poetas, os modernos, os clássicos e os românticos.
Saudade não tem preconceito. Quase não tem nem conceito.
Saudade tem acorde em tom maior.

Não sei porque você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...


Tim Maia

01/09/2009

O ser-para-si

Talvez nem fosse preciso dizer, mas, sim, tenho medo de ser abandonada. Denovo.
Daí me sujeitar a tanto sofrimento calada.
O que acho diferente em mim é o hábito adquirido ao longo dos anos de mascarar isso.
É ser forte, como ouvi tantas vezes repetirem.

Hoje tenho minhas dúvidas sobre tamanha força.
Se eu tivesse sido fraca e me revoltado na hora H ou tivesse jogado aquela verdade na cara, talvez hoje não me doesse tanto.
Mas passou e hoje já nem consigo dizer o que ao certo me machuca.

Sei que estou cansada de me esforçar tanto para receber algo que nunca vi.
Além do reconhecimento e da admiração, talvez o amor também me tenha vindo cercado de condições.
Corresponder à tantas exigências é que tem me consumido. Mas como fugir, se preciso delas pra ter um pouco de carinho?

'Seja mais clara. Me entenda. Me ajude. Faça. Refaça. Obedeça. Esteja atenta. Seja flexivel. Esteja disponivel. Carregue. Entregue.'
Talvez não doesse tanto se visse alguem fazer isso por mim. Mas, sinceramente e infelizmente, não vejo.
Vejo as pessoas exigindo mais. 'Cuide de você. olhe pra você. Cumpra seus compromissos. Você pode fazer mais.'
Não quero ser a única pessoa a gostar de mim. Na verdade, nem consigo.

Acho que é demais querer receber algo que não se dá.
É demais querer que leiam as entrelinhas.
É demais querer chutar o balde e dizer o quanto me dói saber que não sou prioridade pra ninguém. Que exclusidade é palavra que nem existe no meu dicionário.

Não posso fazer isso porque preciso de pelo menos um pouco de atenção.
Preciso desse sentimento superficial que encontro nas ruas e esquinas, apesar dele nao me satisfazer.
Por isso me desanimo e perco a vontade de falar.
Me desfaço sempre um pouco para dar para o outro aquilo que não existe em mim, na esperança de que talvez ele me devolva um parte.

Meu amor não age em mim.
Sempre lembro de Sartre e da psicanálise quando diz que a gente só tem consciência de si quando o outro nos mostra quem somos. Nos vemos pelos olhos dos outros.


Pra que chegar onde cheguei, onde chegarei se ninguém há de comemorar por mim e comigo a caminhada?
Todo mundo só pensa em si. Você só serve para mostrar ao outro quem ele é.

É demais querer alguém que pense em mim, afinal, até eu mesma só penso em mim.