03/07/2009

O início de um contentamento descontente

O infinito sempre fora algo que lhe cansava. Ela gostava mesmo era da efemeridade da vida. Saber que tudo acaba dava à cada minuto um sabor diferente e ela deleitavasse com eles. Desejava o eterno platônicamente. Queria ter sempre uma companhia agradável por perto, alguém que lhe acompanhasse e dividisse os momentos memoráveis. Queria alguém com intimidade suficiente para ficar ao seu lado sem pronunciar uma sequer palavra e para ligar-lhe para falar de coisas fúteis. Ela queria um homem que a desejasse também. Queria tudo isso em uma só pessoa, mas nem sempre a mesma pessoa.
Ela sabia que mais cedo ou mais tarde aquele companheiro seria revestido por uma capa de monotonia cinza e ela iria fugir denovo, mas precisava arriscar. Ela queria ignorar esse fato e amar intensamente. Até que o tédio se aconchegasse alí, eles viveriam momentos inesquecíveis. Era com esses momentos que ela sonhava.
O que nem ela mesmo sabia é que por vezes ela encontrou caras legais que pudessem fazê-la feliz e ela os afastou. Nem sempre por vontade própria.
A sede de felicidade era tanta que ela se perdia em meio às palavras levianas que lhe saltavam à boca na esperança de adiantar o momento tão esperado. Era um vazio tão grande dentro de si que o mundo exterior lhe era sugado. Queria ter a vida que contava a todos que tinha. Ela nunca pôde reclamar da sua vida, mas nunca teve do que se vangloriar. Esperava o homem que lhe traria emoção. Que durasse 10 anos ou 10 minutos, não era o tempo que lhe atormentava. Ela queria desejar alguém mais que tudo na vidinha medíocre que tinha.
Mais que desejo, ela precisava de amor. Em todos esses anos ela nunca havia amado ninguém e pior, não sentía-se amada. Essa constatação trazia-lhe um gosto amargo à
boca. Preferia não pensar nisso. Não mais.
Tinha sido difícil construir aquela mulher atraente que agora a fitava no espelho.
Tinha sido por muitos anos escrava de uma posição que não sabia bem dizer quem havia lhe determinado. Descobriu a duras penas que tinha um jeito próprio de transformar ansiedade em tristeza.
Reconhecer tudo aquilo tinha sido torturante. Ela não queria ver aquele filme novamente. Não agora que a vida parecia ter-lhe dado uma nova chance. Parecia-lhe que a felicidade finalmente batia à porta.

Um comentário:

Josh Lima disse...

Hum... Muito bom ;)

Gostei do bom uso das palavras..
Me da muita vontade de escrever tb,muita...

O texto me lembra muito a Srta, rs!!
Continue assim... ;)