14/12/2011

O mundo em tons de vermelho, verde e dourado; uma alegria discreta, os olhares cheios de paz; neve no norte, calor e chuva no sul – É natal.
Chegou o tempo de trombarmos na rua com dezenas de figuras velhinhas, barbudas, incrivelmente sorridentes e com roupas que desafiam os meteorologistas. É tempo de constrangimentos que só a tarefa de descrever e presentear aquele colega quase desconhecido no amigo oculto da empresa pode causar. É tempo de reencontrar aquele parente que vai sempre fazer um comentário que te deixará ruborizado, seja de vergonha, seja de raiva. É tempo de gastar fortunas, perder horas e ganhar algumas rugas com a correria das compras de natal. Os cristãos se encarregarão de agradecer pela vinda daquele que revolucionaria suas vidas.
Vai chegando dezembro e a gente vai ficando mais emotivo, pensando no valor do amor, nos erros que cometemos ao longo do ano e nas promessas a serem cumpridas no ano que vem. Lembramo-nos daqueles que gostaríamos que estivessem conosco e, os mais espiritualizados, recolhem-se em oração e positividade.
Se eu pudesse ter um pedido realizado nesse natal seria que essa data não se repetisse no ano que vem. Que em 2012 não tivesse peru, Roberto Carlos ou luzes na praça da liberdade.
Os mais mal humorados não teriam do que reclamar, os mais consumistas não teriam com o que se preocupar e os que têm alguma bondade guardada no fundo do armário arrumariam outra data para se manifestarem. Eu sou contra as festividades de dezembro.
Em contrapartida, sugiro que o espírito natalino seja diluído ao longo dos outros 364 dias do ano. Que as famílias se reúnam mais; que pensemos mais vezes nos pobres e oprimidos; que presenteemos nossos colegas todos os dias com mais otimismo e bom humor; que sejamos sempre acolhedores; que Jesus esteja nos nossos pensamentos todas as noites; que os outros nos lembrem de quem somos e quem queremos ser que as canções embalem nossos dias e que renovemos a nossa fé na vida a cada amanhecer.
Talvez assim saibamos que pouco importa o dia em que Jesus nasceu, mas as lições valiosas que Ele deixou; que aproveitar a vida com amor e equilíbrio é o maior presente que você pode dar ao mundo e que não importa o quanto o dia de hoje foi ruim, amanhã é natal!

15/09/2011


Não é que ele fosse especial, é que ele tinha sido o único até hoje que tinha lhe dado valor, não o real valor que no fundo ela sabia que possuia, mas algum valor. Ainda que todas essas constatações fizessem parte de um passado, revê-lo mexeu em algo dentro dela. Ela já não o achava feio (a vida tinha lhe ensinado a pagar caro pelos julgamentos que fazia precipitadamente), ela já não achava ninguém feio. Foi aí que seu desejo lhe armou uma armadilha e sonho após sonho, ato falho após ato falho ela foi se vendo apaixonar por alguém que sequer fazia parte da sua história. Ele era um parágrafo pequeno no meio de uma página inteira de clímax. E agora - como entender? - o protagonista toma pra si o papel principal e o príncipe sobe em seu cavalo branco e vem lhe buscar num sonho de uma noite de verão. Ele tinha o charme de todo anti-herói.


09/07/2011

Solidão por solidão
Prefiro é sentir sozinho
Sem correntes em meus pés
Voo como um passarinho
E pra não perder a fé
Minha oração meu hino
Canto enquanto voz tiver
Construindo o meu destino
Vejo a dor em seu olhar
Mas não posso resistir
Quando o vento me chamar
Meu caminho vou seguir
Sem sonhar eu vivo em vão
E é por isso que eu não quero mais
Viver da desilusão
E perder de vista a minha paz
Não tem laço, não tem lar
Não tem ouro, não tem pena
Que me impeça de voar
Nessa vida tão pequena



(Sérgio Pererê)

06/07/2011



Ela acordou, mas não levantou da cama. Ficou aproveitando os minutos que restavam antes que o sol da manhã alcançasse o seu rosto encostado no travesseiro, sem a pressa que normalmente lhe acompanhava. Fazia tempo que ela não ficava sozinha assim e já tinha até se esquecido de como era essa sensação. "Liberdade"- ela pensou. Durou pouco. Como acontecia todos os dias, começou a ouvir o barulho de gente andando pela casa, telefone tocando, carros e caminhões passando na rua. Logo escutaria os gritos dos garis passando e as músicas bregas do radinho de pilha da vizinha. Suspirou e levantou vagarosamente. Mais uma inspiração e seus ombros lhe doíam como facadas. Dormir não era mais suficiente para que descansasse.
Todos os dias havia alguém - ou alguéns - para lhe sugar a energia reclamando de dinheiro, de saúde, da vida e de não sei o quê mais. Todo dia ela doava toda sua energia para aqueles que lhe pediam e não cobrava sequer um porquê. Ia compensando tudo da sua forma: cigarro, chocolate e uma dose de conhaque.
Mas hoje havia acordada ainda meio zonza do porre de ontem e declaradamente cansada dessa rotina. Desejava mais que tudo um pouquinho de solidão. Ela nunca tinha visto a solidão como algo ruim e hoje, ah, hoje ela queria apaixonar-se por si mesma denovo, ler um livro, preparar algo pra comer, acender seu cigarro e ouvir o som do silêncio. Foi aí que o despertador tocou e a vida lhe enfiou mais um não goela abaixo.

29/06/2011


"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos com o que os outros fizeram de nós."

22/06/2011






Um desânimo.
Uma lerdeza.
Um oco, um vazio.
Aquela velha sensação de estar jogando fora a vida.


Caio Fernando Abreu

10/06/2011

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.



(Fernando Pessoa)

01/06/2011

Eu ando pela rua e vejo tantas pessoas, loiros, morenos, negros, amarelos, todos tão ocos, tão cheios de solidão. Os corpos cada vez mais bonitos, cheirosos e alinhados, fazem parecer mais desesperador o sussurro que salta de cada olhar.
Todos buscando o seu lugar ao sol, pra poder um dia descansar à sombra. E todos tão ocos.
Eu vejo tantas pessoas pela rua, cada uma tentando preencher seu vazio de um jeito diferente, sem nem saber que é o nada que lhe consome, sem perceber que de nada vai adiantar. Uns procurando seu vazio no vazio do outro. Despejando palavras no alheio do mundo.
Eu vejo tantas pessoas pela rua esperando alguém que vá lhe salvar. Eu vejo pessoas depositando toda a sua fé no amor. Um amor divino que vá acabar com sua solidão, sem perceber que sua solidão é só sua e pra sempre sua.
Eu vejo tantas pessoas pela rua achando graça, achando chato, achando brega. Todos ainda procurando, esperando ser reconhecidos no meio da multidão. Disfarçam sua solidão com bom humor, com mau humor, com mais solidão.
Eu vejo tantas pessoas pela rua, eu não vejo ninguém.

28/05/2011

São tempos difíceis para os sonhadores



- Sabe a garota do copo de água?
- Sei.
- Se parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?




(O Fabuloso Destino de Amelie Poulain)


22/05/2011


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou
exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago
a lua toda
Brilha, porque alta vive.



(Fernando Pessoa)

10/05/2011

É preciso fingir

É preciso fingir.
Quem é que não finge nesse mundo?
É preciso dizer que tá bem disposto, é preciso dizer que não tá com fome.
É preciso dizer que não tá com dor de dente. É preciso dizer que não tá com medo. Senão não dá. Não dá!
Nenhum médico jamais me disse que a fome e a pobreza podem levar a um distúrbio mental, mas quem não come fica nervoso. Quem não come e vê seus parentes sem comer pode chegar à loucura.
Um desgosto pode levar à loucura, uma morte na família, o abandono do grande amor...
A gente até precisa fingir que é louco sendo louco. Fingir que é poeta sendo poeta.




(do filme Bicho de 7 cabeças)

01/05/2011

Decisões

Eu já disse aqui que acredito que tem um tempo pra tudo na vida, mas hoje venho fazer uma pergunta: Quando?

Entre os maiores desafios com que já me deparei, esse com certeza entra no top 10: A hora de tomar uma decisão. Decidir por si só já é uma tarefa árdua, mas parece-me tão penoso quanto saber a hora de agir ou esperar. Aparentemente é só escolher e ir, não é? Mas e quando se tem a opção de ficar? E quando ficar não é nem conveniência, nem necessidade, nem acomodação? E quando não se sabe pra onde vai? Não ir também é uma escolha.

Ser moderado é um desafio pra vida toda.

18/04/2011

Sem Nome 18

Hoje o sol se pos no seu reino

colombinas e pierrôs se retiraram

os bobos se deitaram


para me acompanhar, somente a ilusão

e além dos sonhos em vão

para a rainha hoje, toda a escuridão


amanhã quando o sol nascer

outras rainhas verei florescer

hei de me guardar para quem aparecer





Ana Tereza Medrado [18/07/07]

01/04/2011

Sem Nome 09

Queria ser alguém que não fosse ninguém pra me deixar ir além.

Nunca deixei de querer nem deixei de sonhar, mas a vida deu tanta volta que hoje tenho preguiça de lutar.

Queria ser perseverante, queria ser tão forte quanto acho que sou, queria ser mais sincera com meu amor...

Deixar de ser também é ser.

Minha mente opaca não quer ver que tudo o que eu quis era me amar.

E poder te amar com a alma lavada.

Não se engana o coração.

Não sei se te amo.

Amo a sua companhia que me tão faz bem.

Você me faz sorrir, mas tem tantas pessoas por ai.

A rotina é o fim e o começo.

É amor demais ou será só solidao?

Queria te querer com todo meu coracao mas não posso ter.

Não o quero me mover. Medo, incerteza, a vida não é assim.

Me desiludi. Estar só e não saber amar. Saber amar e não saber falar.

Sempre menti até me enganar. Será que não consigo mais parar?

Por que negar o fogo do nosso olhar? Por que deixar de ser alguem que nao é ninguem so pra ser feliz? o que é ser feliz?


Ana Tereza Medrado (2005)

18/03/2011

Bem vindo à casa das bonecas - Dica!


Que eu sou cinéfila não é nenhuma novidade. Também não é novidade que prefiro não indicar filmes porque acredito que meu gosto seja duvidoso. Isso porque gosto de todo tipo de filme e muito dificilmente direi a alguém que um filme não deve ser assistido. Sou uma cinéfila por paixão e, por isso, me abstenho de preconceitos.
No entanto, venho aqui me dar o direito de quebrar as regras uma vez e fazer propaganda de um filme.

O filme chama-se Bem-Vindo à Casa de Bonecas, do diretor Todd Solondz, de 1995.
A história gira em torno de Dawn Weiner. Vítima de bullyng, é constantemente perseguida na escola. Ela deseja ser popular mas a adaptação ao ginasio se torna cada vez mais difícil. No decorrer na história ela se envolve com o garoto problema, Brandon McCarthy, que apesar das provocações levadas, Dawn percebe que tem traços em comum com ele.
Tem no elenco: Heather Matarazzo (A Lilly de O diário da princesa, lembram?), Eric Mabius (de Ugly Betty), Christina Brucato e Victoria Davis Heather.

Surgem então 2 perguntas: Por que um filme tão antigo? E por que um filme com tanta cara de sessão da tarde?
Bem amigos, quando assisti esse filme pela primeira vez eu tinha entre 8 e 9 anos de idade. Eu, irmã do meio assim como a protagonista da história, tinha uma irmã mais nova que mal sabia andar - um poço de fofura - e um irmão mais velho no auge da crise da adolescência. Eu, como toda boa pré-adolescente, era desajeitada, boba e apaixonada por um rapaz mais velho. Parte daí o 1° ponto: identificação.
O 2° ponto foi o impacto que esse filme causou em mim. Na época fiquei impressionada por mais de uma semana, abalada por sentimentos fortes. Passados alguns anos procurei o filme para assistir novamente, mas não lembrava do nome corretamente. Semana passada eu estava na casa da minha avó sem muito o que fazer e peguei um jornal que estava jogado em um canto. Lá estava uma matéria sobre esse filme, acompanhada de uma foto da protagonista. Corri e procurei na internet pra baixar.
Ontem assisti ele novamente e me senti tão tocada quanto há 15 anos atrás. Esse filme mexeu comigo de tal forma que achei válido compartilhar com meus leitores.

Uma cena em especial chega a me deixar sem fôlego. É a cena em que o garoto que, a princípio, mais maltratava a personagem principal, promete que irá estrupá-la e a leva para um local abandonado, mas por fim acaba revelando-se tão frágil e carente quanto ela.

Eu cometi erros iguais os dela e agi da mesma forma muitas vezes. Enfim, não contarei o filme todo aqui. Assistam! vale a pena!

02/03/2011

A Gente Se Acostuma

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e a dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.

E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita.

E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais.

A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber. Vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma





Marina Colassanti

18/02/2011

Revoltei!

Outro dia me peguei fazendo planos e mais planos para comprar mil coisas e economizar muito dinheiro para poder me cercar de luxos: Iphone, notebook, sapato, roupa, bolsa, jóias. Foi quando parei pra me perguntar: E isso tudo é pra que? Pra fazer parte de que?
De onde vieram todos esses desejos completamente dispensáveis? E o sonho de comprar um carro e, automaticamente, um pouquinho de autonomia? E o sonho de viajar sempre que for possível e, aos poucos, conhecer o mundo todo? E meu futuro apartamento?
As pessoas, e eu me incluo aí, sonham em não precisar de aprovação ou reconhecimento, e depertar a afeição alheia sem esforço. Fizeram-nos pensar que quem nos daria esse poder seria o dinheiro.

Foi aí que percebi a influência das redes socias sobre mim, e acredito que sobre todo mundo.
Fiquei lembrando da minha irmã mais nova postando mil fotos no tumblr de vários cafés e produtos derivados como se amasse a bebida, e pedindo refrigerante quando fomo no café do shopping. Fiquei pensando no tempo que ela perde em frente ao computador. E em como ela não faz nada de útil na internet e, principalmente, em como ela se parece comigo.
Ficou fácil ser outra pessoa. Parecer legal, moderno, cheio de amigos. Todo mundo sabe aonde você vai, com quem e o que vocês fazem. Todos tem os melhores smartphones, usam as ferramentas mais modernas, reclamam dos seus trabalhos, vão aos lugares da moda, bebem até cair, riem e são felizes com seus amigos. É como se as pessoas tivessem que dar satisfação pra mundo. Comprovarem que são legais e bem aceitos na sociedade. E tudo isso em tempo real.
Era pra ser um desabafo, uma interação, mas estão forçando a barra. Eu entrei nessa sem perceber.
A verdade é que viver conectada à internet já não me parece um bom negócio. As redes sociais me prendem a um passado que já não faz mais parte de mim e me fazem querer um futuro que nada tem a ver comigo. Esse mundo virtual desperta o pior em mim - Mentira, inveja, remorso, raiva. Não foi isso que sonhei pra mim.

Depois disso fiquei bem afim de mudar de vida, deixar o passado aonde ele deve ficar. Livrar-me do que me faz mal, voltar pra academia, continuar com o violão, estudar um pouco, ler mais livros, sair mais de casa, ver mais filmes, me alimentar melhor. Estou querendo parar de fazer coisas para agradar os outros e chamar atenção de não sei quem. Quero viver pra mim. Quero conhecer mais gente e mais lugares, e quero, principalmente, que isso seja real. E sinto que essa é a melhor hora. Ano novo, emprego novo... Tem que ser agora!

Então aparece o 1° problema: Se é tão ruim, por que não abrir mão de tudo isso logo? Porque o acesso à internet também me trouxe coisas boas. Muitos amores, muito conhecimento, mas principalmente, muitos amigos. Sintam-se honrados, queridos hermanos da mesa de bar, pois é por vocês que continuo nas tão famigeradas redes sociais. Por vocês e por aqueles que tenho pouca oportunidade de ver.
Aí chegamos ao 2° e principal problema: Quantas vezes você leitor já não viu manifestações como essa por aqui? Praticamente todo o blog se baseia nisso. Conclui-se então que nunca deu certo. Tenho vontade de fazer coisas mais interessantes mas acho tremendamente difícil levantar a bunda dessa cadeira. Por isso a minha atitude desesperada de querer sumir com orkut, twitter e etc. Uma tentativa de diminuir meu anseio pela internet e estimular a realização de atividades produtivas.

Mais um desafio para 2011: largar o computador sem abrir mão da internet.
Essa sou eu brigando comigo mesma.
Alguma sugestão?

06/02/2011

Ler a moda

A moda alcança até a literatura. Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Caio Fernando Abreu - Quem nunca ouviu falar? Quem já foi absorvido pela expansão das redes sociais com certeza sabe do que eu estou falando. Há quem ame e há quem odeie. São dezenas de citações por dia, e críticas de quem acha um completo absurdo citar um autor cujo nem sequer tenha lido 1 livro. Caracterísitcas dos tempos atuais (Pós modernos, lembrando meu amigo Pedro Rennó. rs). As citações já vêm prontas e não há que se entender o contexto em que um dia elas se inseriram. No entanto, foi justamente uma dessas citações, que aparecem de forma aleatória na tela do computador, por vontade própria ou não, que me despertou para a natureza positiva dessa nova forma de literatura, se é que posso chamar assim.

Num mundo onde tudo é ágil e muda rapidamente, é necessário enxergar o lado bom das coisas antes que elas acabem. Num mundo (virtual) onde a maior parte do tempo e do trabalho são gastos falando dos BBBs e fazendas da vida, falando de um monte de pessoas que, apesar de parecem íntimas, você sequer conhece, chorando as lamúrias de uma vida de classe média, e usando vídeos de gatinhos e crianças para alegrar o dia, um pouquinho de literatura, mesmo que em doses homeopáticas, me parece um refúgio.

A seguinte citação me fez e faz ter dias mais otimistas. É uma citação que confirma o que diz Mário Quintana, dessa vez lido num livro e não na internet, que tudo dá certo, menos reclamar. Toda vez que leio essa citação tenho uma pequena epifania. De como temos levado a vida de um jeito estranho. Do quanto somos críticos, irônicos, mau humorados e muito, muito reclamões. De como a ansiedade tem tomado conta dos nossos dias. Essa citação me faz lembrar de que o mundo e tudo que o habita existiam bem antes de eu nascer e que tudo toma seu rumo mais cedo ou mais tarde. Que talvez e muito provavelmente as coisas se acertem, ou pelo menos a gente consiga ser feliz desse jeito mesmo. Ela me lembra que é preciso lutar e é preciso saber a hora de desistir. Que o que a gente acha ser o melhor e mais correto pode ser justamente o contrário. Essa citação me lembra principalmente que é preciso saber esperar. Independente de raça, credo, sexo ou idade, há tempo pra tudo e todos.

Creio ainda que citações que podem tocar as pessoas tão profundamente, podem também incentivar a leitura dos livros e, de forma ainda mais produtiva, despertar o escritor dentro de cada um. Bem, foi o que aconteceu comigo nesse exato momento.

A citação a que tenho me referido é de um dos autores mais citados nos twitters e facebooks da vida, cujo livro ainda não li nenhum por inteiro, ainda que tenha lido quase todos os contos de um. Um autor admirável, talvez justamente pela inspiração e identificação que consegue despertar em poucas palavras. Então, sem mais delongas, aí vai:


"(...) Não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."


Caio Fernando Abreu em Carta ao Zézim, disponível em: http://www.releituras.com/caioabreu_menu.aspreu_menu.asp