29/06/2011


"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos com o que os outros fizeram de nós."

22/06/2011






Um desânimo.
Uma lerdeza.
Um oco, um vazio.
Aquela velha sensação de estar jogando fora a vida.


Caio Fernando Abreu

10/06/2011

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.



(Fernando Pessoa)

01/06/2011

Eu ando pela rua e vejo tantas pessoas, loiros, morenos, negros, amarelos, todos tão ocos, tão cheios de solidão. Os corpos cada vez mais bonitos, cheirosos e alinhados, fazem parecer mais desesperador o sussurro que salta de cada olhar.
Todos buscando o seu lugar ao sol, pra poder um dia descansar à sombra. E todos tão ocos.
Eu vejo tantas pessoas pela rua, cada uma tentando preencher seu vazio de um jeito diferente, sem nem saber que é o nada que lhe consome, sem perceber que de nada vai adiantar. Uns procurando seu vazio no vazio do outro. Despejando palavras no alheio do mundo.
Eu vejo tantas pessoas pela rua esperando alguém que vá lhe salvar. Eu vejo pessoas depositando toda a sua fé no amor. Um amor divino que vá acabar com sua solidão, sem perceber que sua solidão é só sua e pra sempre sua.
Eu vejo tantas pessoas pela rua achando graça, achando chato, achando brega. Todos ainda procurando, esperando ser reconhecidos no meio da multidão. Disfarçam sua solidão com bom humor, com mau humor, com mais solidão.
Eu vejo tantas pessoas pela rua, eu não vejo ninguém.