06/07/2011



Ela acordou, mas não levantou da cama. Ficou aproveitando os minutos que restavam antes que o sol da manhã alcançasse o seu rosto encostado no travesseiro, sem a pressa que normalmente lhe acompanhava. Fazia tempo que ela não ficava sozinha assim e já tinha até se esquecido de como era essa sensação. "Liberdade"- ela pensou. Durou pouco. Como acontecia todos os dias, começou a ouvir o barulho de gente andando pela casa, telefone tocando, carros e caminhões passando na rua. Logo escutaria os gritos dos garis passando e as músicas bregas do radinho de pilha da vizinha. Suspirou e levantou vagarosamente. Mais uma inspiração e seus ombros lhe doíam como facadas. Dormir não era mais suficiente para que descansasse.
Todos os dias havia alguém - ou alguéns - para lhe sugar a energia reclamando de dinheiro, de saúde, da vida e de não sei o quê mais. Todo dia ela doava toda sua energia para aqueles que lhe pediam e não cobrava sequer um porquê. Ia compensando tudo da sua forma: cigarro, chocolate e uma dose de conhaque.
Mas hoje havia acordada ainda meio zonza do porre de ontem e declaradamente cansada dessa rotina. Desejava mais que tudo um pouquinho de solidão. Ela nunca tinha visto a solidão como algo ruim e hoje, ah, hoje ela queria apaixonar-se por si mesma denovo, ler um livro, preparar algo pra comer, acender seu cigarro e ouvir o som do silêncio. Foi aí que o despertador tocou e a vida lhe enfiou mais um não goela abaixo.

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