06/02/2011

Ler a moda

A moda alcança até a literatura. Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Caio Fernando Abreu - Quem nunca ouviu falar? Quem já foi absorvido pela expansão das redes sociais com certeza sabe do que eu estou falando. Há quem ame e há quem odeie. São dezenas de citações por dia, e críticas de quem acha um completo absurdo citar um autor cujo nem sequer tenha lido 1 livro. Caracterísitcas dos tempos atuais (Pós modernos, lembrando meu amigo Pedro Rennó. rs). As citações já vêm prontas e não há que se entender o contexto em que um dia elas se inseriram. No entanto, foi justamente uma dessas citações, que aparecem de forma aleatória na tela do computador, por vontade própria ou não, que me despertou para a natureza positiva dessa nova forma de literatura, se é que posso chamar assim.

Num mundo onde tudo é ágil e muda rapidamente, é necessário enxergar o lado bom das coisas antes que elas acabem. Num mundo (virtual) onde a maior parte do tempo e do trabalho são gastos falando dos BBBs e fazendas da vida, falando de um monte de pessoas que, apesar de parecem íntimas, você sequer conhece, chorando as lamúrias de uma vida de classe média, e usando vídeos de gatinhos e crianças para alegrar o dia, um pouquinho de literatura, mesmo que em doses homeopáticas, me parece um refúgio.

A seguinte citação me fez e faz ter dias mais otimistas. É uma citação que confirma o que diz Mário Quintana, dessa vez lido num livro e não na internet, que tudo dá certo, menos reclamar. Toda vez que leio essa citação tenho uma pequena epifania. De como temos levado a vida de um jeito estranho. Do quanto somos críticos, irônicos, mau humorados e muito, muito reclamões. De como a ansiedade tem tomado conta dos nossos dias. Essa citação me faz lembrar de que o mundo e tudo que o habita existiam bem antes de eu nascer e que tudo toma seu rumo mais cedo ou mais tarde. Que talvez e muito provavelmente as coisas se acertem, ou pelo menos a gente consiga ser feliz desse jeito mesmo. Ela me lembra que é preciso lutar e é preciso saber a hora de desistir. Que o que a gente acha ser o melhor e mais correto pode ser justamente o contrário. Essa citação me lembra principalmente que é preciso saber esperar. Independente de raça, credo, sexo ou idade, há tempo pra tudo e todos.

Creio ainda que citações que podem tocar as pessoas tão profundamente, podem também incentivar a leitura dos livros e, de forma ainda mais produtiva, despertar o escritor dentro de cada um. Bem, foi o que aconteceu comigo nesse exato momento.

A citação a que tenho me referido é de um dos autores mais citados nos twitters e facebooks da vida, cujo livro ainda não li nenhum por inteiro, ainda que tenha lido quase todos os contos de um. Um autor admirável, talvez justamente pela inspiração e identificação que consegue despertar em poucas palavras. Então, sem mais delongas, aí vai:


"(...) Não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."


Caio Fernando Abreu em Carta ao Zézim, disponível em: http://www.releituras.com/caioabreu_menu.aspreu_menu.asp

2 comentários:

Hilário Ferreira disse...

Caio Fernando Abreu não é um pseudônimo do Paulo Coelho? Eu vi isso em algum lugar, ouvi dizer que era...

- Tetê - disse...

Não é não... Caio foi um escritor brasileiro, que escrevia preferencialmente crônicas. Morreu há 15 anos.