30/03/2010

Sobre acreditar

Acho que mentir já se tornou um hábito para a maioria das pessoas. Uma mentira pra evitar conflito, pra evitar desgaste, pra evitar decepção. Há quem chame também de omissão.
Mente-se sobre fatos, sobre pessoas e, principalmente, sobre si mesmo. Mentir é sempre uma forma de proteger a si mesmo. O ato mais egoísta que pode existir.
As mentiras vêm de todos as partes, travestidas de todos os jeitos. E sabe o que é pior? A gente sempre sabe. E acredita, mesmo sabendo que não é possível ser feliz sem a verdade.
Acho que foi o mau hábito (que eu também tenho) de mentir que me deixou assim, percebendo facilmente quem não me é sincero. Mas sempre existe aquela sensação (quase sempre falsa) de que pode-se estar perdendo uma oportunidade única.
Não dá pra dizer que funciona como uma bola de neve. Não existem mentiras grandes ou pequenas, são sempre mentiras. O que muda é o quanto elas te fazem sofrer, pois uma coisa é certa: mentiras nunca fazem o bem.
E a gente insiste em mentir, mesmo sabendo que mentira tem perna curta, que a verdade machuca, mas descobrir uma mentira deixa cicatriz pra sempre. A gente não gosta de dar a cara a tapa.
No fim das contas, me resta a certeza de que sempre tive razão, que aquela intuição de que as coisas estavam erradas era verdadeira e que nossos impulsos podem não ser comedidos, mas são sempre certos.
É sempre ruim descobrir que fomos enganados, ainda mais por quem, provavelmente, a partir desse momento não é mais importante pra nós. A gente fica com a sensação de que as coisas ruins acabaram superando as coisas boas, o custo-benefício não foi favorável.
Prefiro levar sempre lembranças boas, mas se essas não existirem, prefiro não levar lembrança nenhuma. Mágoa é uma planta que não costumo cultivar.

26/03/2010

É o que me interessa


Quando fizerem um filme da minha vida, não se esqueçam de colocar essa música na trilha sonora. Em vários momentos essa música me fez transcender. Quando a ouço, sinto minha alma se desprender e meu corpo se encher de uma paz inexplicável.
Agora, mais do que nunca, essa música compreende e organiza meus sentimentos e pensamentos. Acho que é isso que chamam de arte.
Vale muito a pena sentir essa música.


Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro,
A sobra do passado,
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.



[Lenine e Dudu Falcão - É o que me interessa]

22/03/2010

Alvorada

Me propus a vir hoje aqui e escrever nesse blog o que me desse vontade, só pra desabafar assim.
Hoje é um dia cinza. Não só pelo céu nublado e a chuva fina que molha o assalfalto vez ou outra, mas pelo nada que me assolou.
Acordei com a cabeça frenética. Milhões de pensamentos sobre milhões de coisas, algumas boas outras nem tanto. Não consegui manter minha mente vazia. É um bom dia pra escrever no blog.
Não acordei com a raiva, a tristeza, a euforia, a solidão ou a agitação com que tive acordado nesse último mês, hoje acordei diferente. Não sei bem dizer como. Acordei cinza.
O último mês passou-se entre devanios e ocilações de humor que me deixaram transtornada. Pensar sobre um relacionamento que não deu certo e em por quê ele não deu certo ocupou quase todos os dias desse mês. Tive raiva, tive saudade, fiquei carente, fiquei triste, me senti culpada, me senti menosprezada, me senti superior, me senti inferior. As noites ficaram mais curtas. Eu acordei cedo, já com a cabeça a mil. E meu coração, coitado, não sabia nem como bater mais.
Foi ruim. Foi bom. Mas o mais importante é que foi. Aconteceu. Passou. Tenho me preocupado em me desfazer do vício de pensar no passado e em guardar comigo somente lembranças boas.
Ainda há pouco me perguntava como é estranho relacionar-se. Tudo parte do princípio que é necessário relacionar-se: conhecer, gostar, namorar, conviver e assim por diante. E mesmo que você seja um contestador dessa ordem, terá partido do princípio de que existe essa tal relação.
São também variados o tipos de relação: namoro, amizade, família... A ideia é sempre a mesma.
Fiquei pensando, então, em como somos incoerentes nos relacionamentos. Acreditamos ser necessário fazer um jogo. E que jogo mais estranho!
É preciso ser sincero sem dizer o que se passa na sua cabeça. É preciso ser companheiro, mas negligenciar o seu passado. É preciso ignorar o resto do mundo. Não se pode fazer o que tem vontade na hora em que tem vontade. É preciso omitir, fingir. É preciso manipular.
Nesse jogo a gente não pode dizer nunca o quanto se gosta de uma pessoa, muito menos que pode-se gostar de outras. Tem que se passar por cima das suas vontades por causa das vontades do outro. Nesse jogo tem que se manter o mistério e a distância. É preciso criar vínculo sem ser íntimo. A maioria das pessoas gosta desse jogo: Fazer o outro sentir vontade, saudade, tesão, paixão.
A verdade é que não tenho muita paciência pra jogar. Não tenho paciência pra ser hipócrita. E aí percebo que meus relacionamentos são breves e, muitas vezes, cíclicos. Me surpreendo sempre com pessoas que já haviam sumido da minha vida, voltando a querer fazer parte dela, como aconteceu nesse fim de semana.
Esse último mês e, principalmente, o último fim de semana me serviram pra reconhecer que talvez eu seja uma pessoa melhor do que imagino e que, ao contrário do que pensava, eu estive certa na maioria das vezes.
Talvez tenho pecado em ser sincera e impulsiva demais, mas é minha tática de jogo. E, aos trancos e barrancos, com muito esforço, tem dado certo.
O dia continua cinza, mas, graças a Deus, já amanheceu.


21/03/2010

Equilibrista


Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.


Fernando Pessoa


15/03/2010

Preciosa - Uma História de Esperança

Eu esperava um filme impactante, daqueles que deixam a gente com um nó na garganta. Não foi bem assim. O filme distorce um pouco a realidade social dos EUA e de certa forma de todo o mundo. Ao final do filme o máximo que se pode ter é dó da protagonista - Sofreu muito na vida. Mas quem não sofre, não é verdade?
No entanto, saí do cinema com um aperto estranho no peito. O filme não dizia nada mais trágico do que os casos que minha mãe conta do serviço e das coisas que eu vi ao longo da minha curta vida profissional. Eu não tinha me emocionado. Aí percebi que o que Preciosa diz é sobre o sentimento de quem passa por uma superação, e só há de se sentir tocado quem se identificar com a protagonista de alguma forma.
Foi o meu caso.

Indico o filme para aqueles que têm o coração aberto para tomar posse do sofrimento alheio, sem querer se martirizar ou sentir dó, mas expandir mente e alma.


“O amor me bate, me estupra, me chama de animal, me faz se sentir inútil e me deixa doente”.

Trecho do filme: Precious: Based on the Novel Push by Sapphire

14/03/2010


Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida me enfia pela goela a baixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezado-como-um-cão, e tudo bem, acordar, escovar os dentes, tomar um café e continuar.


Caio Fernando Abreu

10/03/2010

O que será

Existem 3 pessoas dentro de mim: A pessoa que eu acho que sou, a pessoa que os outros acham que sou e a pessoa que eu realmente sou.
Essas 3 pessoas coexistem em um corpo único, mas possuem características completamente diferentes. No entanto, as 3 faces de mim estão interligadas de alguma forma.
A edificação mais frágil é da pessoa que acho que sou. Me acho forte, indestrutível, madura e inteligente. Acho que sou uma pessoa sensível e durona ao mesmo tempo. Acho que sou agradável, amável. Não sou bonita nem elegante. Sou desajeitada - com meu prórpio corpo e com as palavras. Sou otimista e bem humorada. Acho que minhas opiniões são sempre bem medidas e necessárias. Me acho autossuficiente. Não choro, não sinto dor. Falo de tudo, ouço de tudo. Sou paciente e tolerante. Me acho inferior a muita gente. Sou desorganizada. Tenho muitos amigos.
A pessoa que os outros acham que sou é a mais variada. Existe todo tipo de opinião: Inteligente, esperta, imatura, infantil, grossa, indelicada, aparecida, engraçada, desajeitada, amiga, fria, paciente, impaciente, brava, mal humorada, há quem diga até que sou estudiosa.
Já a pessoa que realmente sou é uma incógnita pra mim. Cada dia descubro uma coisa nova sobre mim mesma. Minha armadura não é tão eficiente. Sou sensível e choro a toa. Não sei conversar nem abraçar. Gosto de dar liçoes de moral e falar de mim. Não sei escutar. Não sei estudar. Sou inteligente, sim, e me poupo de falsa modéstia, mas não sou sábia. Sou ansiosa, carente e imatura e tenho medo de ser assim para sempre. Sou preguiçosa e acomodada. Sou hipócrita também. Não sou tão dedicada. Preciso de reconhecimento. Sou justa. Sou criativa. Sou mais introspectiva do que pareço. Sou carinhosa. Gosto de ajudar. Sou alegre. Sou tagarela, mas minha boca não consegue acompanhar a minha mente. O que falo é quase sempre sem muita importância. Sou insegura. Sou um pouco bonita. Sou teimosa. Sou orgulhosa. Sou prepotente e arrogante (agora sou incoerente também). Sou corajosa. Meu tempo não é igual o dos outros (Ainda não sei dizer se estou adiantada ou atrasada). Sou egoísta. Sou autoritária. Sou solitária. Sou inconstante. Sou persistente. Sou perfeccionista (com algumas coisas). Sou carente de amigos e de família.
Só faltou dizer que, com tantos tópicos sobre mim, sou egocêntrica.
A verdade é que não posso dizer em momento nenhum da minha vida que não fui eu mesma. Provavelmente não fui o que queria ter sido, mas fui eu. Fui eu que fraquejou, chorou, fez pirraça, ofendeu e humilhou. E não posso dizer que não sabia o que estava fazendo. Sabia, sim. Fui cruel e fiz por mal e não há complexo de Édipo que justifique isso.
O que tenho a dizer em meu benefício é, não que me arrependi, mas que aprendi. E aprendizado, ja dizia Platão, implica mudança. Eu mudei, e tenho mudado todos os dias.
Os fantasmas do passado continuarão a me atormentar até quando se cansarem, mas me consola pensar que o mundo continuará a girar, pessoas especias continuarão a surgir, momentos especiais continuarão a acontecer. E quando for a hora eu estarei mais bem preparada.
Toda essa jornada de autoconhecimento tem me dado um pouco de paz. A frustração e a decepção comigo mesma vão passando aos poucos, e vou, aos poucos, me permitindo ter uma segunda chance.
O que não foi dito em nenhuma das 3 pessoas que sou é que sou uma pessoa de sorte. Sei que as coisas acontecem na hora certa e que são sempre as pessoas certas que cruzam nosso caminho. Na hora do aperto tem sempre um anjo perto de mim em forma de amigo, de livro, de música, de professor, de família, de filme, de programa de tv.
Por fim, gostaria de apresentar-lhes o meu 4° eu. Não, ele não habita no meu corpo. Ele habita minha alma: é a pessoa que eu quero ser. Quero ser mais paciente, saber calar, saber enxergar, saber ouvir. Quero saber reconhecer a hora certa e conseguir dominar meus sentimentos sem sufocá-los. Quero exigir menos de mim e levar a vida mais leve. E por enquanto é só isso.
Depois de todo esse texto, acho que já sou um pouco isso tudo.
Me vem uma citação à cabeça:
"Não somos o que deveríamos ser, não somos o que desejamos ser, não somos o que iremos ser, mas graças a Deus não somos o que erámos."
Martin Luther King

04/03/2010

O Pequeno Príncipe

Assim o principezinho, apesar da boa vontade de seu amor, logo duvidara dela. Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.
"Não a devia ter escutado - confessou-me um dia - não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta, mas eu não me contentava com isso. A tal história das garras que tanto me agastara, me devia ter enternecido..."
Confessou-me ainda:
"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ele me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar."

Antoine de Sainte-Exupéry


Não foi no primeiro, nem no segundo, talvez nem no terceiro, mas foi em algum lugar entre tantos livros que percebi que eles têm vida própria. Eles vêm parar em nossas mãos por vontade própria, entendem sempre muito bem as situações pelas quais passamos e têm sempre algo extrememante valioso a dizer.

Identificar-se é, ao mesmo tempo, o desabafo e o consolo.