23/11/2017

A vista de cima das nuvens

Agora, às vésperas do início da quarta década, vivendo um sem-tempo inferno astral, encontro-me às voltas com dizeres do passado. Antigos, eu diria, se não tivessem sido escritos um dia antes de ontem.
Olhos e ouvidos atentos. Punha-me a andar certa como dois e dois são cinco.
O viver, no entanto, se pôs na travessia. No caminho de fazer ser, muita coisa também foi atravesso. Nem toda palavra ecoou. Mas indo, foi. E vai. Longe do  planejado e e com maior regojizo do que imaginado. Vai. À luz da mulher, descobrindo a ida.
Por entre os passos, muitas foram as palavras que transbordaram. "Você é toda errada". "A mais forte da casa". Penso que não seja um contraponto, mas um especular de uma "Edição Especial".
Depois que a gente cresce, a tristeza vira cansaço e o vazio preenche-se de um fazer sem fim. Penso que é esse o jeito. Que as coisas não são consertadas, somente perdem a precisão. O fantasiar vai ficando pelo caminho, mas o sonho, não. Ainda que não haja onde chegar, fazendo o caminho faz-se o caminhante.
Tereza, aquela do Manuel Bandeira, que tinha a cara parecida com uma perna, às vezes aparece por aqui. Guardei algumas palavras dela. "Esquizofrênico". Não entendia, mas gostava. Ainda gosta. Travessias ou travessuras?
"Acho que é um pé de galinha". Só pode ser porque os olhos nasceram e ficaram esperando 10 anos que o resto do corpo nascesse. Foi sim. Manuel disse. Olhos de olhar lindezas, eu acho. Por isso tanta pressa pra nascer. Os braços e pernas demoraram mais. Estavam se preparando para o lidar. Nasceram para carregar água na peneira.
Ponho-me a trançar o errado, o belo e o possível, tecendo cestos de carregar mundo. Não me desfaço do fazer. O porquê existe ali. Tem sido assim. Às vezes trombo, caio, refaço, desisto. Soluço, espirro, tropeço.  Fujo pro vazio, silêncio. Não é tão errado assim.
Depois volto a caminhar. Não tem hora de chegada. Com as pernas tontas e cansadas, a cabeça cheia de formiga, corpo pesado e olhos esguios, eu vou. A menina e a moça também vêm. Indo a gente vai.  Mal dá pra ver o início do caminho, mas dá pra ver a riqueza que mora aqui. Indo o tempo ajeita as coisas. Eu só faço me acompanhar.

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