22/02/2013

30 dias de saudade


Hoje quando eu acordei, atrasada como de costume, fui tomada por um estranho bom humor, coisa que não é vista normalmente por essas bandas logo de manhã. Ainda assim, correndo me arrumei, correndo saí.
No caminho, também como de costume, deixei a sorte escolher a trilha sonora do dia que começava. Com o rádio no modo aleatório, segui o meu caminho. Não foi surpresa quando ouvi a voz e o violão do Cartola - ele já faz parte do meu repertório. "Ainda é cedo, amor, mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora de partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar..." O mundo é um moinho.
Foi quando me lembrei que hoje faz um mês que meu querido avô nos deixou. Doeu. Eu ouvia a música e doía mais. Fiquei pensando em como essa dor parece um pouco banal. Quase todo mundo perdeu ou perderá em breve seus avós. Pensei que existem dores muito piores. Então pensei no jeito-sem-jeito do meu avô abraçar (mais parecia um mata-leão). E em como ele percebia quando alguém estava triste, mesmo quando esse alguém se esforçava tremendamente para disfarçar. E em como ele simplesmente sentava ao seu lado, te dava um xêro e perguntava: "E ai? Qualé o pó?". Pensei em como meu avô não chamava ninguém pelo nome, em como ele tinha apelido pra todo mundo. Eu, por exemplo, era pitanga. Às vezes roxa, às vezes 'véia', mas sempre pitanga. Pensei em como meu avô sempre dizia que eu estava bonita e em seguida me oferecia uma cerveja. Pensei em como ele não levava nada a sério e em como isso virou uma herança. Pensei em como ele era conciliador e em como era reclamão. Pensei em como dormia rápido. Pensei no ronco. Pensei em quanto ele demorava pra concluir uma frase. Pensei em quantas vezes ele contou o caso de quando atravessou o Rio Jequitinhonha a nado e quase morreu. Pensei em como ele ficava feliz em ver a família toda reunida e em quanto ele achava que nos víamos pouco, mesmo nos vendo toda semana. Pensei em como era vaidoso e em como se vestia bem. Pensei nas piadinhas que fazia e em como isso também virou uma herança. Pensei em como era alegre. Pensei que poucos, mais precisamente 10, tiveram o mesmo avô que eu. Pensei em nós.
Entendi que dor não pode ser comparada, talvez sequer medida. Percebi que não sei classificar bem o sentimento que surge ao lembrar dele. Talvez seja a tão famosa saudade.
Tem sido difícil não pensar nele. Mais difícil ainda é segurar o choro. Todo dia a gente tem que começar denovo, renascer, respirar fundo e continuar andando.
E agora que o sol já tá caindo, a semana acabando e a dor diminuindo só consigo pensar em uma palavra: esperança. Seja feliz, vô, onde quer que você esteja.

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